Não só pode como deve e é importante. Dá para chamar de diversidade talvez… ou subculturas. Fato é que as gerações e perfis diferentes convivendo no mesmo ambiente e tendo que caminhar no mesmo sentido é a realidade das culturas corporativas e algo fundamental para os negócios. Mas bota complexo nisso aí! O desafio é conciliar uma estratégia com várias táticas.
Para provocar essa reflexão, nós resolvemos bater um papo com Ralph Peticov, um dos fundadores do HackTown (o maior festival de inovação, tecnologia, comportamento e conteúdo da América Latina), ex-sócio da Mandalah, consultoria pioneira em projetos de inovação consciente e reconhecida pela Fast Company como uma das mais inovadoras do mundo, e parceiro aqui da Wisnet. A história dele é pura multiculturalidade e com certeza vai trazer bons insights.
Wisnet: Oi Ralph, tudo bem?! É um prazer bater esse papo contigo!
Ralph: O prazer é todo meu! Quando me contaram o tema da news deste mês fiquei mega excitado e feliz de poder falar sobre algo que amo tanto, mas aí veio uma certa ressalva, tipo um bloqueio que simplesmente me paralisou. Cultura é um assunto complexo, são muitas vertentes. Mas talvez a multiculturalidade seja um bom recorte para se olhar, porque tenho certeza de que foi isso que me deu base para construir uma carreira criativa no universo corporativo e depois criar um festival tão diverso em conteúdo.
Sou um neto da cultura e filho da contracultura! E digo isso porque sou neto de um grande pastor da Igreja Batista que teve o ápice de sua “carreira” entre o fim dos anos 60 e o início dos anos 90, justamente no momento do nascimento e amadurecimento da chamada contracultura no mundo e que seus 3 filhos estavam no início juventude e sedentos por esses movimentos. Ou seja: esse tema era o cerne de diversas questões na minha casa. E era tão forte que enquanto meu avô se tornava cada vez mais uma figura importante na igreja meu tio despontava como artista e precursor do movimento da subcultura hippie, hoje chamado de Tropicalismo.
Acho que dá para imaginar meu avô como um homem muito religioso e rígido que espelhava a palavra de Deus no seu cotidiano, seguindo à risca todas as regras que a liturgia impunha. Ao mesmo tempo, a congruência era tamanha que foi com ele que aprendi sobre liberdade e a importância de dar liberdade, que foi a forma como ele criou os filhos. Me lembro que um dia tivemos uma conversa em que perguntei como era para ele ver as escolhas dos filhos (porque pra mim era um contrassenso um pastor ser pai de artistas símbolos da contracultura brasileira) e ele me disse algo que nunca esqueci: “Eu posso e devo mostrar o caminho, mas não posso e não devo obrigar ninguém a seguir. Deus tem um propósito para cada um!”.
E isso me marcou tanto que com certeza é algo que me define.
Wisnet: Muito interessante mesmo porque a gente entende como as diferenças de olhar são importantes, mas é difícil conciliar. Indo para o nosso recorte que é corporativo, como você acha que as lideranças podem conciliar suas origens culturais com as culturas das organizações?
Ralph: Eu acredito que a resposta está em aprender sobre a beleza da liberdade. As lideranças precisam aprender a deixar as equipes livres para exercerem sua potência e poderem criar, errar, tentar. Entendendo que são essas diferenças que vão funcionar como diferencial competitivo. Mas para isso é importante criar um ambiente acolhedor e sexy que permita às pessoas se expressarem com autenticidade.
Um ambiente uniforme com profissionais que não questionam, todos com os mesmos cursos, que viajam para os mesmos lugares, leem os mesmos livros, não vai gerar coisas novas. A contracultura incomoda, mas é valiosa.
Wisnet: Faz muito sentido, mas na prática, como equilibrar rigidez e liberdade nas organizações?
Ralph: Acho importante entender o que você está chamando de rigidez. Uma cultura forte, bem consolidada ou uma cultura rígida, estática? Porque se for sobre tradição não vejo como um problema exatamente. Nesse caso é importante saber tirar proveito, no bom sentido, da história. É pegar esse fio condutor e usá-lo como orientador de caminhos. Mas se a rigidez for sobre uma cultura estática e imposta fica mais complicado porque isso mata a criatividade e esse é um valor importante nos dias de hoje.
Eu gosto de imaginar as organizações como uma banda de rock onde os momentos de ensaios são aqueles de criação e de troca entre os membros, onde eles têm liberdade de criação, mas estão delimitados pelo pilar do estilo musical da banda. Os músicos sabem que podem criar, misturar outros ritmos, mas devem seguir fazendo rock, pois ninguém quer ir a um show de uma banda de heavy metal para ouvir axé, né?!
Wisnet: Você falou sobre como aprendeu com seu avô e trouxe essa bagagem para o trabalho que faz hoje. Como você entende a importância dos rituais e da liturgia no contexto corporativo?
Ralph: Essa pergunta é ótima e complementa muito bem a anterior. Eu acredito que são os rituais ou o seu conjunto que formam a liturgia de uma cultura, que é o fator conector dos elementos de uma organização. É aquilo que demonstra o jeito de ser e se expressar daquele grupo. Os acordos velados que são o jeito que as pessoas da banda fazem o som acontecer, aquela coisa que está na troca de olhares entre os músicos, que faz a gente ouvir um som e saber que é de determinada banda é a cultura, mas a liturgia é aquilo que tangibiliza todo esse intangível. Entende?
Uma banda de rock é feita de roqueiros e não de sambistas.
Wisnet: O que os CEOs podem aprender com os pastores, os avôs e os artistas?
Ralph: Adorei a pergunta! rs…
Quando eu era criança eu ia com meu avô na igreja e observava umas reuniões dos líderes para cocriar soluções para os negócios dos membros da congregação com o intuito de aumentar os ganhos através do dízimo. A ideia ali era a de que incrementando os negócios dos membros, unindo os múltiplos conhecimentos presentes na comunidade (formada de médicos, advogados, empresários etc.) proporcionalmente se aumentava a contribuição financeira dele, afinal 10% de mil é diferente de 10% de dez mil.
Então eu acho que tem muito aprendizado aí, mas o principal é que tudo é cíclico e está em movimento. Uma cultura não é estática e vai durar tal como é para sempre. Ela vai se transformar com o tempo conforme seus membros exercerem sua liberdade e seus talentos. E é nesse cruzamento de possibilidades que o grande valor vai sendo gerado e vai fortalecendo a instituição.
Wisnet: Muito bom Ralph, obrigada!
Ralph: Eu que agradeço! Esse tema é muito bom e adoro conversar sobre ele.
Não só pode como deve e é importante. Dá para chamar de diversidade talvez… ou subculturas. Fato é que as gerações e perfis diferentes convivendo no mesmo ambiente e tendo que caminhar no mesmo sentido é a realidade das culturas corporativas e algo fundamental para os negócios. Mas bota complexo nisso aí! O desafio é conciliar uma estratégia com várias táticas.
Para provocar essa reflexão, nós resolvemos bater um papo com Ralph Peticov, um dos fundadores do HackTown (o maior festival de inovação, tecnologia, comportamento e conteúdo da América Latina), ex-sócio da Mandalah, consultoria pioneira em projetos de inovação consciente e reconhecida pela Fast Company como uma das mais inovadoras do mundo, e parceiro aqui da Wisnet. A história dele é pura multiculturalidade e com certeza vai trazer bons insights.
Wisnet: Oi Ralph, tudo bem?! É um prazer bater esse papo contigo!
Ralph: O prazer é todo meu! Quando me contaram o tema da news deste mês fiquei mega excitado e feliz de poder falar sobre algo que amo tanto, mas aí veio uma certa ressalva, tipo um bloqueio que simplesmente me paralisou. Cultura é um assunto complexo, são muitas vertentes. Mas talvez a multiculturalidade seja um bom recorte para se olhar, porque tenho certeza de que foi isso que me deu base para construir uma carreira criativa no universo corporativo e depois criar um festival tão diverso em conteúdo.
Sou um neto da cultura e filho da contracultura! E digo isso porque sou neto de um grande pastor da Igreja Batista que teve o ápice de sua “carreira” entre o fim dos anos 60 e o início dos anos 90, justamente no momento do nascimento e amadurecimento da chamada contracultura no mundo e que seus 3 filhos estavam no início juventude e sedentos por esses movimentos. Ou seja: esse tema era o cerne de diversas questões na minha casa. E era tão forte que enquanto meu avô se tornava cada vez mais uma figura importante na igreja meu tio despontava como artista e precursor do movimento da subcultura hippie, hoje chamado de Tropicalismo.
Acho que dá para imaginar meu avô como um homem muito religioso e rígido que espelhava a palavra de Deus no seu cotidiano, seguindo à risca todas as regras que a liturgia impunha. Ao mesmo tempo, a congruência era tamanha que foi com ele que aprendi sobre liberdade e a importância de dar liberdade, que foi a forma como ele criou os filhos. Me lembro que um dia tivemos uma conversa em que perguntei como era para ele ver as escolhas dos filhos (porque pra mim era um contrassenso um pastor ser pai de artistas símbolos da contracultura brasileira) e ele me disse algo que nunca esqueci: “Eu posso e devo mostrar o caminho, mas não posso e não devo obrigar ninguém a seguir. Deus tem um propósito para cada um!”.
E isso me marcou tanto que com certeza é algo que me define.
Wisnet: Muito interessante mesmo porque a gente entende como as diferenças de olhar são importantes, mas é difícil conciliar. Indo para o nosso recorte que é corporativo, como você acha que as lideranças podem conciliar suas origens culturais com as culturas das organizações?
Ralph: Eu acredito que a resposta está em aprender sobre a beleza da liberdade. As lideranças precisam aprender a deixar as equipes livres para exercerem sua potência e poderem criar, errar, tentar. Entendendo que são essas diferenças que vão funcionar como diferencial competitivo. Mas para isso é importante criar um ambiente acolhedor e sexy que permita às pessoas se expressarem com autenticidade.
Um ambiente uniforme com profissionais que não questionam, todos com os mesmos cursos, que viajam para os mesmos lugares, leem os mesmos livros, não vai gerar coisas novas. A contracultura incomoda, mas é valiosa.
Wisnet: Faz muito sentido, mas na prática, como equilibrar rigidez e liberdade nas organizações?
Ralph: Acho importante entender o que você está chamando de rigidez. Uma cultura forte, bem consolidada ou uma cultura rígida, estática? Porque se for sobre tradição não vejo como um problema exatamente. Nesse caso é importante saber tirar proveito, no bom sentido, da história. É pegar esse fio condutor e usá-lo como orientador de caminhos. Mas se a rigidez for sobre uma cultura estática e imposta fica mais complicado porque isso mata a criatividade e esse é um valor importante nos dias de hoje.
Eu gosto de imaginar as organizações como uma banda de rock onde os momentos de ensaios são aqueles de criação e de troca entre os membros, onde eles têm liberdade de criação, mas estão delimitados pelo pilar do estilo musical da banda. Os músicos sabem que podem criar, misturar outros ritmos, mas devem seguir fazendo rock, pois ninguém quer ir a um show de uma banda de heavy metal para ouvir axé, né?!
Wisnet: Você falou sobre como aprendeu com seu avô e trouxe essa bagagem para o trabalho que faz hoje. Como você entende a importância dos rituais e da liturgia no contexto corporativo?
Ralph: Essa pergunta é ótima e complementa muito bem a anterior. Eu acredito que são os rituais ou o seu conjunto que formam a liturgia de uma cultura, que é o fator conector dos elementos de uma organização. É aquilo que demonstra o jeito de ser e se expressar daquele grupo. Os acordos velados que são o jeito que as pessoas da banda fazem o som acontecer, aquela coisa que está na troca de olhares entre os músicos, que faz a gente ouvir um som e saber que é de determinada banda é a cultura, mas a liturgia é aquilo que tangibiliza todo esse intangível. Entende?
Uma banda de rock é feita de roqueiros e não de sambistas.
Wisnet: O que os CEOs podem aprender com os pastores, os avôs e os artistas?
Ralph: Adorei a pergunta! rs…
Quando eu era criança eu ia com meu avô na igreja e observava umas reuniões dos líderes para cocriar soluções para os negócios dos membros da congregação com o intuito de aumentar os ganhos através do dízimo. A ideia ali era a de que incrementando os negócios dos membros, unindo os múltiplos conhecimentos presentes na comunidade (formada de médicos, advogados, empresários etc.) proporcionalmente se aumentava a contribuição financeira dele, afinal 10% de mil é diferente de 10% de dez mil.
Então eu acho que tem muito aprendizado aí, mas o principal é que tudo é cíclico e está em movimento. Uma cultura não é estática e vai durar tal como é para sempre. Ela vai se transformar com o tempo conforme seus membros exercerem sua liberdade e seus talentos. E é nesse cruzamento de possibilidades que o grande valor vai sendo gerado e vai fortalecendo a instituição.
Wisnet: Muito bom Ralph, obrigada!
Ralph: Eu que agradeço! Esse tema é muito bom e adoro conversar sobre ele.
Não só pode como deve e é importante. Dá para chamar de diversidade talvez… ou subculturas. Fato é que as gerações e perfis diferentes convivendo no mesmo ambiente e tendo que caminhar no mesmo sentido é a realidade das culturas corporativas e algo fundamental para os negócios. Mas bota complexo nisso aí! O desafio é conciliar uma estratégia com várias táticas.
Para provocar essa reflexão, nós resolvemos bater um papo com Ralph Peticov, um dos fundadores do HackTown (o maior festival de inovação, tecnologia, comportamento e conteúdo da América Latina), ex-sócio da Mandalah, consultoria pioneira em projetos de inovação consciente e reconhecida pela Fast Company como uma das mais inovadoras do mundo, e parceiro aqui da Wisnet. A história dele é pura multiculturalidade e com certeza vai trazer bons insights.
Wisnet: Oi Ralph, tudo bem?! É um prazer bater esse papo contigo!
Ralph: O prazer é todo meu! Quando me contaram o tema da news deste mês fiquei mega excitado e feliz de poder falar sobre algo que amo tanto, mas aí veio uma certa ressalva, tipo um bloqueio que simplesmente me paralisou. Cultura é um assunto complexo, são muitas vertentes. Mas talvez a multiculturalidade seja um bom recorte para se olhar, porque tenho certeza de que foi isso que me deu base para construir uma carreira criativa no universo corporativo e depois criar um festival tão diverso em conteúdo.
Sou um neto da cultura e filho da contracultura! E digo isso porque sou neto de um grande pastor da Igreja Batista que teve o ápice de sua “carreira” entre o fim dos anos 60 e o início dos anos 90, justamente no momento do nascimento e amadurecimento da chamada contracultura no mundo e que seus 3 filhos estavam no início juventude e sedentos por esses movimentos. Ou seja: esse tema era o cerne de diversas questões na minha casa. E era tão forte que enquanto meu avô se tornava cada vez mais uma figura importante na igreja meu tio despontava como artista e precursor do movimento da subcultura hippie, hoje chamado de Tropicalismo.
Acho que dá para imaginar meu avô como um homem muito religioso e rígido que espelhava a palavra de Deus no seu cotidiano, seguindo à risca todas as regras que a liturgia impunha. Ao mesmo tempo, a congruência era tamanha que foi com ele que aprendi sobre liberdade e a importância de dar liberdade, que foi a forma como ele criou os filhos. Me lembro que um dia tivemos uma conversa em que perguntei como era para ele ver as escolhas dos filhos (porque pra mim era um contrassenso um pastor ser pai de artistas símbolos da contracultura brasileira) e ele me disse algo que nunca esqueci: “Eu posso e devo mostrar o caminho, mas não posso e não devo obrigar ninguém a seguir. Deus tem um propósito para cada um!”.
E isso me marcou tanto que com certeza é algo que me define.
Wisnet: Muito interessante mesmo porque a gente entende como as diferenças de olhar são importantes, mas é difícil conciliar. Indo para o nosso recorte que é corporativo, como você acha que as lideranças podem conciliar suas origens culturais com as culturas das organizações?
Ralph: Eu acredito que a resposta está em aprender sobre a beleza da liberdade. As lideranças precisam aprender a deixar as equipes livres para exercerem sua potência e poderem criar, errar, tentar. Entendendo que são essas diferenças que vão funcionar como diferencial competitivo. Mas para isso é importante criar um ambiente acolhedor e sexy que permita às pessoas se expressarem com autenticidade.
Um ambiente uniforme com profissionais que não questionam, todos com os mesmos cursos, que viajam para os mesmos lugares, leem os mesmos livros, não vai gerar coisas novas. A contracultura incomoda, mas é valiosa.
Wisnet: Faz muito sentido, mas na prática, como equilibrar rigidez e liberdade nas organizações?
Ralph: Acho importante entender o que você está chamando de rigidez. Uma cultura forte, bem consolidada ou uma cultura rígida, estática? Porque se for sobre tradição não vejo como um problema exatamente. Nesse caso é importante saber tirar proveito, no bom sentido, da história. É pegar esse fio condutor e usá-lo como orientador de caminhos. Mas se a rigidez for sobre uma cultura estática e imposta fica mais complicado porque isso mata a criatividade e esse é um valor importante nos dias de hoje.
Eu gosto de imaginar as organizações como uma banda de rock onde os momentos de ensaios são aqueles de criação e de troca entre os membros, onde eles têm liberdade de criação, mas estão delimitados pelo pilar do estilo musical da banda. Os músicos sabem que podem criar, misturar outros ritmos, mas devem seguir fazendo rock, pois ninguém quer ir a um show de uma banda de heavy metal para ouvir axé, né?!
Wisnet: Você falou sobre como aprendeu com seu avô e trouxe essa bagagem para o trabalho que faz hoje. Como você entende a importância dos rituais e da liturgia no contexto corporativo?
Ralph: Essa pergunta é ótima e complementa muito bem a anterior. Eu acredito que são os rituais ou o seu conjunto que formam a liturgia de uma cultura, que é o fator conector dos elementos de uma organização. É aquilo que demonstra o jeito de ser e se expressar daquele grupo. Os acordos velados que são o jeito que as pessoas da banda fazem o som acontecer, aquela coisa que está na troca de olhares entre os músicos, que faz a gente ouvir um som e saber que é de determinada banda é a cultura, mas a liturgia é aquilo que tangibiliza todo esse intangível. Entende?
Uma banda de rock é feita de roqueiros e não de sambistas.
Wisnet: O que os CEOs podem aprender com os pastores, os avôs e os artistas?
Ralph: Adorei a pergunta! rs…
Quando eu era criança eu ia com meu avô na igreja e observava umas reuniões dos líderes para cocriar soluções para os negócios dos membros da congregação com o intuito de aumentar os ganhos através do dízimo. A ideia ali era a de que incrementando os negócios dos membros, unindo os múltiplos conhecimentos presentes na comunidade (formada de médicos, advogados, empresários etc.) proporcionalmente se aumentava a contribuição financeira dele, afinal 10% de mil é diferente de 10% de dez mil.
Então eu acho que tem muito aprendizado aí, mas o principal é que tudo é cíclico e está em movimento. Uma cultura não é estática e vai durar tal como é para sempre. Ela vai se transformar com o tempo conforme seus membros exercerem sua liberdade e seus talentos. E é nesse cruzamento de possibilidades que o grande valor vai sendo gerado e vai fortalecendo a instituição.
Wisnet: Muito bom Ralph, obrigada!
Ralph: Eu que agradeço! Esse tema é muito bom e adoro conversar sobre ele.
Não só pode como deve e é importante. Dá para chamar de diversidade talvez… ou subculturas. Fato é que as gerações e perfis diferentes convivendo no mesmo ambiente e tendo que caminhar no mesmo sentido é a realidade das culturas corporativas e algo fundamental para os negócios. Mas bota complexo nisso aí! O desafio é conciliar uma estratégia com várias táticas.
Para provocar essa reflexão, nós resolvemos bater um papo com Ralph Peticov, um dos fundadores do HackTown (o maior festival de inovação, tecnologia, comportamento e conteúdo da América Latina), ex-sócio da Mandalah, consultoria pioneira em projetos de inovação consciente e reconhecida pela Fast Company como uma das mais inovadoras do mundo, e parceiro aqui da Wisnet. A história dele é pura multiculturalidade e com certeza vai trazer bons insights.
Wisnet: Oi Ralph, tudo bem?! É um prazer bater esse papo contigo!
Ralph: O prazer é todo meu! Quando me contaram o tema da news deste mês fiquei mega excitado e feliz de poder falar sobre algo que amo tanto, mas aí veio uma certa ressalva, tipo um bloqueio que simplesmente me paralisou. Cultura é um assunto complexo, são muitas vertentes. Mas talvez a multiculturalidade seja um bom recorte para se olhar, porque tenho certeza de que foi isso que me deu base para construir uma carreira criativa no universo corporativo e depois criar um festival tão diverso em conteúdo.
Sou um neto da cultura e filho da contracultura! E digo isso porque sou neto de um grande pastor da Igreja Batista que teve o ápice de sua “carreira” entre o fim dos anos 60 e o início dos anos 90, justamente no momento do nascimento e amadurecimento da chamada contracultura no mundo e que seus 3 filhos estavam no início juventude e sedentos por esses movimentos. Ou seja: esse tema era o cerne de diversas questões na minha casa. E era tão forte que enquanto meu avô se tornava cada vez mais uma figura importante na igreja meu tio despontava como artista e precursor do movimento da subcultura hippie, hoje chamado de Tropicalismo.
Acho que dá para imaginar meu avô como um homem muito religioso e rígido que espelhava a palavra de Deus no seu cotidiano, seguindo à risca todas as regras que a liturgia impunha. Ao mesmo tempo, a congruência era tamanha que foi com ele que aprendi sobre liberdade e a importância de dar liberdade, que foi a forma como ele criou os filhos. Me lembro que um dia tivemos uma conversa em que perguntei como era para ele ver as escolhas dos filhos (porque pra mim era um contrassenso um pastor ser pai de artistas símbolos da contracultura brasileira) e ele me disse algo que nunca esqueci: “Eu posso e devo mostrar o caminho, mas não posso e não devo obrigar ninguém a seguir. Deus tem um propósito para cada um!”.
E isso me marcou tanto que com certeza é algo que me define.
Wisnet: Muito interessante mesmo porque a gente entende como as diferenças de olhar são importantes, mas é difícil conciliar. Indo para o nosso recorte que é corporativo, como você acha que as lideranças podem conciliar suas origens culturais com as culturas das organizações?
Ralph: Eu acredito que a resposta está em aprender sobre a beleza da liberdade. As lideranças precisam aprender a deixar as equipes livres para exercerem sua potência e poderem criar, errar, tentar. Entendendo que são essas diferenças que vão funcionar como diferencial competitivo. Mas para isso é importante criar um ambiente acolhedor e sexy que permita às pessoas se expressarem com autenticidade.
Um ambiente uniforme com profissionais que não questionam, todos com os mesmos cursos, que viajam para os mesmos lugares, leem os mesmos livros, não vai gerar coisas novas. A contracultura incomoda, mas é valiosa.
Wisnet: Faz muito sentido, mas na prática, como equilibrar rigidez e liberdade nas organizações?
Ralph: Acho importante entender o que você está chamando de rigidez. Uma cultura forte, bem consolidada ou uma cultura rígida, estática? Porque se for sobre tradição não vejo como um problema exatamente. Nesse caso é importante saber tirar proveito, no bom sentido, da história. É pegar esse fio condutor e usá-lo como orientador de caminhos. Mas se a rigidez for sobre uma cultura estática e imposta fica mais complicado porque isso mata a criatividade e esse é um valor importante nos dias de hoje.
Eu gosto de imaginar as organizações como uma banda de rock onde os momentos de ensaios são aqueles de criação e de troca entre os membros, onde eles têm liberdade de criação, mas estão delimitados pelo pilar do estilo musical da banda. Os músicos sabem que podem criar, misturar outros ritmos, mas devem seguir fazendo rock, pois ninguém quer ir a um show de uma banda de heavy metal para ouvir axé, né?!
Wisnet: Você falou sobre como aprendeu com seu avô e trouxe essa bagagem para o trabalho que faz hoje. Como você entende a importância dos rituais e da liturgia no contexto corporativo?
Ralph: Essa pergunta é ótima e complementa muito bem a anterior. Eu acredito que são os rituais ou o seu conjunto que formam a liturgia de uma cultura, que é o fator conector dos elementos de uma organização. É aquilo que demonstra o jeito de ser e se expressar daquele grupo. Os acordos velados que são o jeito que as pessoas da banda fazem o som acontecer, aquela coisa que está na troca de olhares entre os músicos, que faz a gente ouvir um som e saber que é de determinada banda é a cultura, mas a liturgia é aquilo que tangibiliza todo esse intangível. Entende?
Uma banda de rock é feita de roqueiros e não de sambistas.
Wisnet: O que os CEOs podem aprender com os pastores, os avôs e os artistas?
Ralph: Adorei a pergunta! rs…
Quando eu era criança eu ia com meu avô na igreja e observava umas reuniões dos líderes para cocriar soluções para os negócios dos membros da congregação com o intuito de aumentar os ganhos através do dízimo. A ideia ali era a de que incrementando os negócios dos membros, unindo os múltiplos conhecimentos presentes na comunidade (formada de médicos, advogados, empresários etc.) proporcionalmente se aumentava a contribuição financeira dele, afinal 10% de mil é diferente de 10% de dez mil.
Então eu acho que tem muito aprendizado aí, mas o principal é que tudo é cíclico e está em movimento. Uma cultura não é estática e vai durar tal como é para sempre. Ela vai se transformar com o tempo conforme seus membros exercerem sua liberdade e seus talentos. E é nesse cruzamento de possibilidades que o grande valor vai sendo gerado e vai fortalecendo a instituição.
Wisnet: Muito bom Ralph, obrigada!
Ralph: Eu que agradeço! Esse tema é muito bom e adoro conversar sobre ele.
Não só pode como deve e é importante. Dá para chamar de diversidade talvez… ou subculturas. Fato é que as gerações e perfis diferentes convivendo no mesmo ambiente e tendo que caminhar no mesmo sentido é a realidade das culturas corporativas e algo fundamental para os negócios. Mas bota complexo nisso aí! O desafio é conciliar uma estratégia com várias táticas.
Para provocar essa reflexão, nós resolvemos bater um papo com Ralph Peticov, um dos fundadores do HackTown (o maior festival de inovação, tecnologia, comportamento e conteúdo da América Latina), ex-sócio da Mandalah, consultoria pioneira em projetos de inovação consciente e reconhecida pela Fast Company como uma das mais inovadoras do mundo, e parceiro aqui da Wisnet. A história dele é pura multiculturalidade e com certeza vai trazer bons insights.
Wisnet: Oi Ralph, tudo bem?! É um prazer bater esse papo contigo!
Ralph: O prazer é todo meu! Quando me contaram o tema da news deste mês fiquei mega excitado e feliz de poder falar sobre algo que amo tanto, mas aí veio uma certa ressalva, tipo um bloqueio que simplesmente me paralisou. Cultura é um assunto complexo, são muitas vertentes. Mas talvez a multiculturalidade seja um bom recorte para se olhar, porque tenho certeza de que foi isso que me deu base para construir uma carreira criativa no universo corporativo e depois criar um festival tão diverso em conteúdo.
Sou um neto da cultura e filho da contracultura! E digo isso porque sou neto de um grande pastor da Igreja Batista que teve o ápice de sua “carreira” entre o fim dos anos 60 e o início dos anos 90, justamente no momento do nascimento e amadurecimento da chamada contracultura no mundo e que seus 3 filhos estavam no início juventude e sedentos por esses movimentos. Ou seja: esse tema era o cerne de diversas questões na minha casa. E era tão forte que enquanto meu avô se tornava cada vez mais uma figura importante na igreja meu tio despontava como artista e precursor do movimento da subcultura hippie, hoje chamado de Tropicalismo.
Acho que dá para imaginar meu avô como um homem muito religioso e rígido que espelhava a palavra de Deus no seu cotidiano, seguindo à risca todas as regras que a liturgia impunha. Ao mesmo tempo, a congruência era tamanha que foi com ele que aprendi sobre liberdade e a importância de dar liberdade, que foi a forma como ele criou os filhos. Me lembro que um dia tivemos uma conversa em que perguntei como era para ele ver as escolhas dos filhos (porque pra mim era um contrassenso um pastor ser pai de artistas símbolos da contracultura brasileira) e ele me disse algo que nunca esqueci: “Eu posso e devo mostrar o caminho, mas não posso e não devo obrigar ninguém a seguir. Deus tem um propósito para cada um!”.
E isso me marcou tanto que com certeza é algo que me define.
Wisnet: Muito interessante mesmo porque a gente entende como as diferenças de olhar são importantes, mas é difícil conciliar. Indo para o nosso recorte que é corporativo, como você acha que as lideranças podem conciliar suas origens culturais com as culturas das organizações?
Ralph: Eu acredito que a resposta está em aprender sobre a beleza da liberdade. As lideranças precisam aprender a deixar as equipes livres para exercerem sua potência e poderem criar, errar, tentar. Entendendo que são essas diferenças que vão funcionar como diferencial competitivo. Mas para isso é importante criar um ambiente acolhedor e sexy que permita às pessoas se expressarem com autenticidade.
Um ambiente uniforme com profissionais que não questionam, todos com os mesmos cursos, que viajam para os mesmos lugares, leem os mesmos livros, não vai gerar coisas novas. A contracultura incomoda, mas é valiosa.
Wisnet: Faz muito sentido, mas na prática, como equilibrar rigidez e liberdade nas organizações?
Ralph: Acho importante entender o que você está chamando de rigidez. Uma cultura forte, bem consolidada ou uma cultura rígida, estática? Porque se for sobre tradição não vejo como um problema exatamente. Nesse caso é importante saber tirar proveito, no bom sentido, da história. É pegar esse fio condutor e usá-lo como orientador de caminhos. Mas se a rigidez for sobre uma cultura estática e imposta fica mais complicado porque isso mata a criatividade e esse é um valor importante nos dias de hoje.
Eu gosto de imaginar as organizações como uma banda de rock onde os momentos de ensaios são aqueles de criação e de troca entre os membros, onde eles têm liberdade de criação, mas estão delimitados pelo pilar do estilo musical da banda. Os músicos sabem que podem criar, misturar outros ritmos, mas devem seguir fazendo rock, pois ninguém quer ir a um show de uma banda de heavy metal para ouvir axé, né?!
Wisnet: Você falou sobre como aprendeu com seu avô e trouxe essa bagagem para o trabalho que faz hoje. Como você entende a importância dos rituais e da liturgia no contexto corporativo?
Ralph: Essa pergunta é ótima e complementa muito bem a anterior. Eu acredito que são os rituais ou o seu conjunto que formam a liturgia de uma cultura, que é o fator conector dos elementos de uma organização. É aquilo que demonstra o jeito de ser e se expressar daquele grupo. Os acordos velados que são o jeito que as pessoas da banda fazem o som acontecer, aquela coisa que está na troca de olhares entre os músicos, que faz a gente ouvir um som e saber que é de determinada banda é a cultura, mas a liturgia é aquilo que tangibiliza todo esse intangível. Entende?
Uma banda de rock é feita de roqueiros e não de sambistas.
Wisnet: O que os CEOs podem aprender com os pastores, os avôs e os artistas?
Ralph: Adorei a pergunta! rs…
Quando eu era criança eu ia com meu avô na igreja e observava umas reuniões dos líderes para cocriar soluções para os negócios dos membros da congregação com o intuito de aumentar os ganhos através do dízimo. A ideia ali era a de que incrementando os negócios dos membros, unindo os múltiplos conhecimentos presentes na comunidade (formada de médicos, advogados, empresários etc.) proporcionalmente se aumentava a contribuição financeira dele, afinal 10% de mil é diferente de 10% de dez mil.
Então eu acho que tem muito aprendizado aí, mas o principal é que tudo é cíclico e está em movimento. Uma cultura não é estática e vai durar tal como é para sempre. Ela vai se transformar com o tempo conforme seus membros exercerem sua liberdade e seus talentos. E é nesse cruzamento de possibilidades que o grande valor vai sendo gerado e vai fortalecendo a instituição.
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