O trabalho dos sonhos existe? Entrevista com Vinicio Chechetto.
O trabalho dos sonhos existe? Entrevista com Vinicio Chechetto.
O trabalho dos sonhos existe? Entrevista com Vinicio Chechetto.
O trabalho dos sonhos existe? Entrevista com Vinicio Chechetto.
O trabalho dos sonhos existe? Entrevista com Vinicio Chechetto.
Crescemos ouvindo que podemos "ser tudo", mas nem sempre sabemos o que esse "tudo" significa. E saímos em busca do trabalho dos sonhos, aquele que nos preenche e nos abastece diariamente de alegria, propósito, amor.
Mas o trabalho dos sonhos realmente existe? Para investigar as inúmeras possibilidades de resposta para esta pergunta, conversamos com o filósofo e psicólogo Vinicio Chechetto, sócio Wisnet, sobre propósito, relações de trabalho e amor. Sim, amor.
Vinicio Chechetto - Existe. Acho que a gente pode caracterizar, como um exemplo, que o trabalho [dos sonhos] contribui para a sua dignidade. É aquele que tem um espaço onde você pode ampliar seu potencial. Até acessar o seu pleno potencial, digamos. Sim, ele existe.
Mas não esperemos muito que ele esteja lá ou cá, nesta ou naquela empresa. Não. Há uma expressão de Santo Agostinho que diz:
Eu posso transformar meu ambiente, meu trabalho, num lugar de expressão do meu ser, de minha qualidade, de minha inteligência, de meu relacionamento e mesmo de amor. O ambiente do sonho é um ambiente desafiador, estimulante e confiável. Neste sentido, como você pode contribuir para ter as condições e o ambiente que precisa para ser feliz?
Vinicio Chechetto - Das mais diversas formas, quando nós buscamos algo tem - por detrás, em última análise -, bem mais do que apenas remuneração. Se eu dissesse que você tem R$60 milhões para receber na sua conta, você quer esses R$60 milhões? Provavelmente, sim. Só que tem uma condição: para receber esses R$60 milhões, você vai ficar infeliz, muito infeliz. Você topa? Não, claro que não! Então, o que você busca?
As novas gerações acentuam mais a consciência para a importância da auto realização. É uma forma de impulso para buscar, em última análise, harmonia, tranquilidade. É que muitas vezes não está onde a gente busca, mas ela é um impulso. Ela está indicando, movendo. É algo que todos nós experimentamos e cada vez mais parece que as pessoas acordam para isso. Mesmo aqueles que queriam ficar 40, 50, 60 anos numa empresa, e no fundo tinham uma ilusão ou um desejo de estar no trabalho dos sonhos. Porque, de um jeito ou de outro, ele indica onde nós queremos chegar.
Vinicio Chechetto - É uma ótima questão. Temos uma questão que é a personalidade, o jeito de ser e de agir de Vinicio, João, Mário e o papai e a mamãe, os papéis, gestores etc. A personalidade, por definição, ela sempre manifestará insatisfações. A inquietude, no fundo, é a busca por acessar a nossa natureza mais profunda.
E é muito fácil jogar a toalha e sair procurando outro emprego, outro trabalho, outro desafio. Porque nós queremos com isso uma paz ativa. Todos nós carregamos um diálogo interno. Eu carrego a contradição em mim mesmo. E muitas vezes, ao jogar a toalha com simplicidade ou com superficialidade, nos lançamos num círculo vicioso, que não nos ajuda a encontrar o que queremos.
É importante a gente ter essa compreensão no mundo do trabalho. Nós não vamos ter sempre o gestor que nós sonhamos, o ambiente que nós sonhamos, os colegas que sonhamos, porque há imperfeições. E nós nos defrontamos com imperfeições, com falhas, com ego, com ambições dentro de nós mesmos, inclusive. Isso incomoda, eu sei. Mas aí eu posso usar isso como energia, como degrau, em vez de um obstáculo, para tomar consciência.
Uma vez, um participante num evento em que eu estava, falou: "Eu sou grato pelo meu câncer". E aí ele contou toda uma história de como ele vivia antes da doença e dos aprendizados que ela trouxe. Não que seja desejável. Não que busquemos histórias assim. Mas ao encontrar esse câncer, ele recuperou seus relacionamentos de uma maneira admirável.
Vinicio Chechetto - Grande parte não está. E nós convivemos com muitos RH, muitos clientes, e em especial com lideranças. Então, você encontra hoje ainda liderança na lógica de comando e controle. E essa lógica tem um pressuposto: "eu sou mais e você, menos". "E você vai aprender comigo de uma maneira que você me deve esse aprendizado depois". "Você presta atenção, faz o que eu digo e aqui você vai se dar bem". Isso não é compartilhamento.
Ainda há muitas pessoas que acreditam profundamente que possuem poder na relação de trabalho. Elas pensam: "Eu sentei, eu peguei meu lugar, minha cadeira, e então agora eu digo, mando, avalio, demito. Então, as coisas vão acontecer!". E as coisas não saem. Mas tem bastante gente pensando assim.
Então, voltando naquele ponto, quando você diz "E os desconfortos?". Eu busco outra coisa por um impulso de não aguentar, claro. Se eu percebi que isso é tóxico e que não tenho força para isso, faço uma escolha. Mas não adianta sair achando que vai encontrar um paraíso no outro tipo de trabalho. Vai se deparar também com pessoas imperfeitas, pessoas egocêntricas e pessoas que querem tirar vantagem em todos os lugares. Há pesquisas mostrando que as pessoas não aceitam mais certas condições e é importante que tenham esse estágio, essa ação de não passividade, mas também precisamos ter cuidado para não largar a toalha de uma maneira impulsiva e inconsciente. E esse processo pode não resultar em um bom caminho.
Vinicio Chechetto - Eu penso que tudo começa com autoconhecimento, conhecer e entender o nosso potencial. Conhecer nossas fraquezas, gatilhos, padrões repetitivos.
Porque o pensamento também é uma forma e uma palavra. A gente pensa com palavras, formas e imagens. E quando conhecemos nossa essência, conseguimos ir além das palavras. Então, chega o ponto para encontrar a justa medida, o fim de um ciclo. Vou caminhar e caminho bem e fecho bem. Para ter certeza precisamos do autoconhecimento. Então sim, essa vivência de prestar atenção em si vai abrindo caminhos. Normalmente nós ficamos prisioneiros de um olhar superficial, externo, sem aprofundar e ter a percepção da nossa essência.
Vinicio Chechetto - Talvez, porque o amor não exclui momentos de dor. Momentos de separação. Nós vivemos a experiência humana também no trabalho. Então, pode ser uma fase adocicada ou enganosa. Tem coisas, situações que devemos repelir mesmo, como a violência e a desqualificação, a discriminação, um viés de desumanidade. Claro que você também chega a um certo momento, mesmo gostando, apreciando o que você faz, ao seu limite físico, um limite de exaustão. Mas é importante viver essa experiência de estar consciente de que não se gosta, acolher mesmo. Esse 'não gostar' também é compreender o que ele traz de energia. Por que ele toca certos dínamos: mentais, emocionais e até físicos.
Vinicio Chechetto - A auto investigação. É o princípio de tudo.
E ao realizá-la isso amplia, aumenta meu bem-estar. Mas é preciso conhecer a nossa força e conhecer também o que não queremos, porque isso nos corrói, nos distrai. Eu estou buscando uma posição de diretoria, ok? Quando for diretor, o que isso vai simbolizar? Há muito trabalho, muito dinheiro, muito poder, é certo. E o que mais? Porque se não cuidar, vai ter muita infelicidade também. De onde vêm as perguntas que você escolheu fazer? Vem de uma busca, de uma intuição?
Crescemos ouvindo que podemos "ser tudo", mas nem sempre sabemos o que esse "tudo" significa. E saímos em busca do trabalho dos sonhos, aquele que nos preenche e nos abastece diariamente de alegria, propósito, amor.
Mas o trabalho dos sonhos realmente existe? Para investigar as inúmeras possibilidades de resposta para esta pergunta, conversamos com o filósofo e psicólogo Vinicio Chechetto, sócio Wisnet, sobre propósito, relações de trabalho e amor. Sim, amor.
Vinicio Chechetto - Existe. Acho que a gente pode caracterizar, como um exemplo, que o trabalho [dos sonhos] contribui para a sua dignidade. É aquele que tem um espaço onde você pode ampliar seu potencial. Até acessar o seu pleno potencial, digamos. Sim, ele existe.
Mas não esperemos muito que ele esteja lá ou cá, nesta ou naquela empresa. Não. Há uma expressão de Santo Agostinho que diz:
Eu posso transformar meu ambiente, meu trabalho, num lugar de expressão do meu ser, de minha qualidade, de minha inteligência, de meu relacionamento e mesmo de amor. O ambiente do sonho é um ambiente desafiador, estimulante e confiável. Neste sentido, como você pode contribuir para ter as condições e o ambiente que precisa para ser feliz?
Vinicio Chechetto - Das mais diversas formas, quando nós buscamos algo tem - por detrás, em última análise -, bem mais do que apenas remuneração. Se eu dissesse que você tem R$60 milhões para receber na sua conta, você quer esses R$60 milhões? Provavelmente, sim. Só que tem uma condição: para receber esses R$60 milhões, você vai ficar infeliz, muito infeliz. Você topa? Não, claro que não! Então, o que você busca?
As novas gerações acentuam mais a consciência para a importância da auto realização. É uma forma de impulso para buscar, em última análise, harmonia, tranquilidade. É que muitas vezes não está onde a gente busca, mas ela é um impulso. Ela está indicando, movendo. É algo que todos nós experimentamos e cada vez mais parece que as pessoas acordam para isso. Mesmo aqueles que queriam ficar 40, 50, 60 anos numa empresa, e no fundo tinham uma ilusão ou um desejo de estar no trabalho dos sonhos. Porque, de um jeito ou de outro, ele indica onde nós queremos chegar.
Vinicio Chechetto - É uma ótima questão. Temos uma questão que é a personalidade, o jeito de ser e de agir de Vinicio, João, Mário e o papai e a mamãe, os papéis, gestores etc. A personalidade, por definição, ela sempre manifestará insatisfações. A inquietude, no fundo, é a busca por acessar a nossa natureza mais profunda.
E é muito fácil jogar a toalha e sair procurando outro emprego, outro trabalho, outro desafio. Porque nós queremos com isso uma paz ativa. Todos nós carregamos um diálogo interno. Eu carrego a contradição em mim mesmo. E muitas vezes, ao jogar a toalha com simplicidade ou com superficialidade, nos lançamos num círculo vicioso, que não nos ajuda a encontrar o que queremos.
É importante a gente ter essa compreensão no mundo do trabalho. Nós não vamos ter sempre o gestor que nós sonhamos, o ambiente que nós sonhamos, os colegas que sonhamos, porque há imperfeições. E nós nos defrontamos com imperfeições, com falhas, com ego, com ambições dentro de nós mesmos, inclusive. Isso incomoda, eu sei. Mas aí eu posso usar isso como energia, como degrau, em vez de um obstáculo, para tomar consciência.
Uma vez, um participante num evento em que eu estava, falou: "Eu sou grato pelo meu câncer". E aí ele contou toda uma história de como ele vivia antes da doença e dos aprendizados que ela trouxe. Não que seja desejável. Não que busquemos histórias assim. Mas ao encontrar esse câncer, ele recuperou seus relacionamentos de uma maneira admirável.
Vinicio Chechetto - Grande parte não está. E nós convivemos com muitos RH, muitos clientes, e em especial com lideranças. Então, você encontra hoje ainda liderança na lógica de comando e controle. E essa lógica tem um pressuposto: "eu sou mais e você, menos". "E você vai aprender comigo de uma maneira que você me deve esse aprendizado depois". "Você presta atenção, faz o que eu digo e aqui você vai se dar bem". Isso não é compartilhamento.
Ainda há muitas pessoas que acreditam profundamente que possuem poder na relação de trabalho. Elas pensam: "Eu sentei, eu peguei meu lugar, minha cadeira, e então agora eu digo, mando, avalio, demito. Então, as coisas vão acontecer!". E as coisas não saem. Mas tem bastante gente pensando assim.
Então, voltando naquele ponto, quando você diz "E os desconfortos?". Eu busco outra coisa por um impulso de não aguentar, claro. Se eu percebi que isso é tóxico e que não tenho força para isso, faço uma escolha. Mas não adianta sair achando que vai encontrar um paraíso no outro tipo de trabalho. Vai se deparar também com pessoas imperfeitas, pessoas egocêntricas e pessoas que querem tirar vantagem em todos os lugares. Há pesquisas mostrando que as pessoas não aceitam mais certas condições e é importante que tenham esse estágio, essa ação de não passividade, mas também precisamos ter cuidado para não largar a toalha de uma maneira impulsiva e inconsciente. E esse processo pode não resultar em um bom caminho.
Vinicio Chechetto - Eu penso que tudo começa com autoconhecimento, conhecer e entender o nosso potencial. Conhecer nossas fraquezas, gatilhos, padrões repetitivos.
Porque o pensamento também é uma forma e uma palavra. A gente pensa com palavras, formas e imagens. E quando conhecemos nossa essência, conseguimos ir além das palavras. Então, chega o ponto para encontrar a justa medida, o fim de um ciclo. Vou caminhar e caminho bem e fecho bem. Para ter certeza precisamos do autoconhecimento. Então sim, essa vivência de prestar atenção em si vai abrindo caminhos. Normalmente nós ficamos prisioneiros de um olhar superficial, externo, sem aprofundar e ter a percepção da nossa essência.
Vinicio Chechetto - Talvez, porque o amor não exclui momentos de dor. Momentos de separação. Nós vivemos a experiência humana também no trabalho. Então, pode ser uma fase adocicada ou enganosa. Tem coisas, situações que devemos repelir mesmo, como a violência e a desqualificação, a discriminação, um viés de desumanidade. Claro que você também chega a um certo momento, mesmo gostando, apreciando o que você faz, ao seu limite físico, um limite de exaustão. Mas é importante viver essa experiência de estar consciente de que não se gosta, acolher mesmo. Esse 'não gostar' também é compreender o que ele traz de energia. Por que ele toca certos dínamos: mentais, emocionais e até físicos.
Vinicio Chechetto - A auto investigação. É o princípio de tudo.
E ao realizá-la isso amplia, aumenta meu bem-estar. Mas é preciso conhecer a nossa força e conhecer também o que não queremos, porque isso nos corrói, nos distrai. Eu estou buscando uma posição de diretoria, ok? Quando for diretor, o que isso vai simbolizar? Há muito trabalho, muito dinheiro, muito poder, é certo. E o que mais? Porque se não cuidar, vai ter muita infelicidade também. De onde vêm as perguntas que você escolheu fazer? Vem de uma busca, de uma intuição?
Crescemos ouvindo que podemos "ser tudo", mas nem sempre sabemos o que esse "tudo" significa. E saímos em busca do trabalho dos sonhos, aquele que nos preenche e nos abastece diariamente de alegria, propósito, amor.
Mas o trabalho dos sonhos realmente existe? Para investigar as inúmeras possibilidades de resposta para esta pergunta, conversamos com o filósofo e psicólogo Vinicio Chechetto, sócio Wisnet, sobre propósito, relações de trabalho e amor. Sim, amor.
Vinicio Chechetto - Existe. Acho que a gente pode caracterizar, como um exemplo, que o trabalho [dos sonhos] contribui para a sua dignidade. É aquele que tem um espaço onde você pode ampliar seu potencial. Até acessar o seu pleno potencial, digamos. Sim, ele existe.
Mas não esperemos muito que ele esteja lá ou cá, nesta ou naquela empresa. Não. Há uma expressão de Santo Agostinho que diz:
Eu posso transformar meu ambiente, meu trabalho, num lugar de expressão do meu ser, de minha qualidade, de minha inteligência, de meu relacionamento e mesmo de amor. O ambiente do sonho é um ambiente desafiador, estimulante e confiável. Neste sentido, como você pode contribuir para ter as condições e o ambiente que precisa para ser feliz?
Vinicio Chechetto - Das mais diversas formas, quando nós buscamos algo tem - por detrás, em última análise -, bem mais do que apenas remuneração. Se eu dissesse que você tem R$60 milhões para receber na sua conta, você quer esses R$60 milhões? Provavelmente, sim. Só que tem uma condição: para receber esses R$60 milhões, você vai ficar infeliz, muito infeliz. Você topa? Não, claro que não! Então, o que você busca?
As novas gerações acentuam mais a consciência para a importância da auto realização. É uma forma de impulso para buscar, em última análise, harmonia, tranquilidade. É que muitas vezes não está onde a gente busca, mas ela é um impulso. Ela está indicando, movendo. É algo que todos nós experimentamos e cada vez mais parece que as pessoas acordam para isso. Mesmo aqueles que queriam ficar 40, 50, 60 anos numa empresa, e no fundo tinham uma ilusão ou um desejo de estar no trabalho dos sonhos. Porque, de um jeito ou de outro, ele indica onde nós queremos chegar.
Vinicio Chechetto - É uma ótima questão. Temos uma questão que é a personalidade, o jeito de ser e de agir de Vinicio, João, Mário e o papai e a mamãe, os papéis, gestores etc. A personalidade, por definição, ela sempre manifestará insatisfações. A inquietude, no fundo, é a busca por acessar a nossa natureza mais profunda.
E é muito fácil jogar a toalha e sair procurando outro emprego, outro trabalho, outro desafio. Porque nós queremos com isso uma paz ativa. Todos nós carregamos um diálogo interno. Eu carrego a contradição em mim mesmo. E muitas vezes, ao jogar a toalha com simplicidade ou com superficialidade, nos lançamos num círculo vicioso, que não nos ajuda a encontrar o que queremos.
É importante a gente ter essa compreensão no mundo do trabalho. Nós não vamos ter sempre o gestor que nós sonhamos, o ambiente que nós sonhamos, os colegas que sonhamos, porque há imperfeições. E nós nos defrontamos com imperfeições, com falhas, com ego, com ambições dentro de nós mesmos, inclusive. Isso incomoda, eu sei. Mas aí eu posso usar isso como energia, como degrau, em vez de um obstáculo, para tomar consciência.
Uma vez, um participante num evento em que eu estava, falou: "Eu sou grato pelo meu câncer". E aí ele contou toda uma história de como ele vivia antes da doença e dos aprendizados que ela trouxe. Não que seja desejável. Não que busquemos histórias assim. Mas ao encontrar esse câncer, ele recuperou seus relacionamentos de uma maneira admirável.
Vinicio Chechetto - Grande parte não está. E nós convivemos com muitos RH, muitos clientes, e em especial com lideranças. Então, você encontra hoje ainda liderança na lógica de comando e controle. E essa lógica tem um pressuposto: "eu sou mais e você, menos". "E você vai aprender comigo de uma maneira que você me deve esse aprendizado depois". "Você presta atenção, faz o que eu digo e aqui você vai se dar bem". Isso não é compartilhamento.
Ainda há muitas pessoas que acreditam profundamente que possuem poder na relação de trabalho. Elas pensam: "Eu sentei, eu peguei meu lugar, minha cadeira, e então agora eu digo, mando, avalio, demito. Então, as coisas vão acontecer!". E as coisas não saem. Mas tem bastante gente pensando assim.
Então, voltando naquele ponto, quando você diz "E os desconfortos?". Eu busco outra coisa por um impulso de não aguentar, claro. Se eu percebi que isso é tóxico e que não tenho força para isso, faço uma escolha. Mas não adianta sair achando que vai encontrar um paraíso no outro tipo de trabalho. Vai se deparar também com pessoas imperfeitas, pessoas egocêntricas e pessoas que querem tirar vantagem em todos os lugares. Há pesquisas mostrando que as pessoas não aceitam mais certas condições e é importante que tenham esse estágio, essa ação de não passividade, mas também precisamos ter cuidado para não largar a toalha de uma maneira impulsiva e inconsciente. E esse processo pode não resultar em um bom caminho.
Vinicio Chechetto - Eu penso que tudo começa com autoconhecimento, conhecer e entender o nosso potencial. Conhecer nossas fraquezas, gatilhos, padrões repetitivos.
Porque o pensamento também é uma forma e uma palavra. A gente pensa com palavras, formas e imagens. E quando conhecemos nossa essência, conseguimos ir além das palavras. Então, chega o ponto para encontrar a justa medida, o fim de um ciclo. Vou caminhar e caminho bem e fecho bem. Para ter certeza precisamos do autoconhecimento. Então sim, essa vivência de prestar atenção em si vai abrindo caminhos. Normalmente nós ficamos prisioneiros de um olhar superficial, externo, sem aprofundar e ter a percepção da nossa essência.
Uma frase bastante conhecida nos diz que "se você ama o que você faz, você nunca trabalhará um dia em sua vida". Essa frase, em certa medida, te incomoda?
Vinicio Chechetto - Talvez, porque o amor não exclui momentos de dor. Momentos de separação. Nós vivemos a experiência humana também no trabalho. Então, pode ser uma fase adocicada ou enganosa. Tem coisas, situações que devemos repelir mesmo, como a violência e a desqualificação, a discriminação, um viés de desumanidade. Claro que você também chega a um certo momento, mesmo gostando, apreciando o que você faz, ao seu limite físico, um limite de exaustão. Mas é importante viver essa experiência de estar consciente de que não se gosta, acolher mesmo. Esse 'não gostar' também é compreender o que ele traz de energia. Por que ele toca certos dínamos: mentais, emocionais e até físicos.
Vinicio Chechetto - A auto investigação. É o princípio de tudo.
E ao realizá-la isso amplia, aumenta meu bem-estar. Mas é preciso conhecer a nossa força e conhecer também o que não queremos, porque isso nos corrói, nos distrai. Eu estou buscando uma posição de diretoria, ok? Quando for diretor, o que isso vai simbolizar? Há muito trabalho, muito dinheiro, muito poder, é certo. E o que mais? Porque se não cuidar, vai ter muita infelicidade também. De onde vêm as perguntas que você escolheu fazer? Vem de uma busca, de uma intuição?
Crescemos ouvindo que podemos "ser tudo", mas nem sempre sabemos o que esse "tudo" significa. E saímos em busca do trabalho dos sonhos, aquele que nos preenche e nos abastece diariamente de alegria, propósito, amor.
Mas o trabalho dos sonhos realmente existe? Para investigar as inúmeras possibilidades de resposta para esta pergunta, conversamos com o filósofo e psicólogo Vinicio Chechetto, sócio Wisnet, sobre propósito, relações de trabalho e amor. Sim, amor.
Vinicio Chechetto - Existe. Acho que a gente pode caracterizar, como um exemplo, que o trabalho [dos sonhos] contribui para a sua dignidade. É aquele que tem um espaço onde você pode ampliar seu potencial. Até acessar o seu pleno potencial, digamos. Sim, ele existe.
Mas não esperemos muito que ele esteja lá ou cá, nesta ou naquela empresa. Não. Há uma expressão de Santo Agostinho que diz:
Eu posso transformar meu ambiente, meu trabalho, num lugar de expressão do meu ser, de minha qualidade, de minha inteligência, de meu relacionamento e mesmo de amor. O ambiente do sonho é um ambiente desafiador, estimulante e confiável. Neste sentido, como você pode contribuir para ter as condições e o ambiente que precisa para ser feliz?
Vinicio Chechetto - Das mais diversas formas, quando nós buscamos algo tem - por detrás, em última análise -, bem mais do que apenas remuneração. Se eu dissesse que você tem R$60 milhões para receber na sua conta, você quer esses R$60 milhões? Provavelmente, sim. Só que tem uma condição: para receber esses R$60 milhões, você vai ficar infeliz, muito infeliz. Você topa? Não, claro que não! Então, o que você busca?
As novas gerações acentuam mais a consciência para a importância da auto realização. É uma forma de impulso para buscar, em última análise, harmonia, tranquilidade. É que muitas vezes não está onde a gente busca, mas ela é um impulso. Ela está indicando, movendo. É algo que todos nós experimentamos e cada vez mais parece que as pessoas acordam para isso. Mesmo aqueles que queriam ficar 40, 50, 60 anos numa empresa, e no fundo tinham uma ilusão ou um desejo de estar no trabalho dos sonhos. Porque, de um jeito ou de outro, ele indica onde nós queremos chegar.
Vinicio Chechetto - É uma ótima questão. Temos uma questão que é a personalidade, o jeito de ser e de agir de Vinicio, João, Mário e o papai e a mamãe, os papéis, gestores etc. A personalidade, por definição, ela sempre manifestará insatisfações. A inquietude, no fundo, é a busca por acessar a nossa natureza mais profunda.
E é muito fácil jogar a toalha e sair procurando outro emprego, outro trabalho, outro desafio. Porque nós queremos com isso uma paz ativa. Todos nós carregamos um diálogo interno. Eu carrego a contradição em mim mesmo. E muitas vezes, ao jogar a toalha com simplicidade ou com superficialidade, nos lançamos num círculo vicioso, que não nos ajuda a encontrar o que queremos.
É importante a gente ter essa compreensão no mundo do trabalho. Nós não vamos ter sempre o gestor que nós sonhamos, o ambiente que nós sonhamos, os colegas que sonhamos, porque há imperfeições. E nós nos defrontamos com imperfeições, com falhas, com ego, com ambições dentro de nós mesmos, inclusive. Isso incomoda, eu sei. Mas aí eu posso usar isso como energia, como degrau, em vez de um obstáculo, para tomar consciência.
Uma vez, um participante num evento em que eu estava, falou: "Eu sou grato pelo meu câncer". E aí ele contou toda uma história de como ele vivia antes da doença e dos aprendizados que ela trouxe. Não que seja desejável. Não que busquemos histórias assim. Mas ao encontrar esse câncer, ele recuperou seus relacionamentos de uma maneira admirável.
Vinicio Chechetto - Grande parte não está. E nós convivemos com muitos RH, muitos clientes, e em especial com lideranças. Então, você encontra hoje ainda liderança na lógica de comando e controle. E essa lógica tem um pressuposto: "eu sou mais e você, menos". "E você vai aprender comigo de uma maneira que você me deve esse aprendizado depois". "Você presta atenção, faz o que eu digo e aqui você vai se dar bem". Isso não é compartilhamento.
Ainda há muitas pessoas que acreditam profundamente que possuem poder na relação de trabalho. Elas pensam: "Eu sentei, eu peguei meu lugar, minha cadeira, e então agora eu digo, mando, avalio, demito. Então, as coisas vão acontecer!". E as coisas não saem. Mas tem bastante gente pensando assim.
Então, voltando naquele ponto, quando você diz "E os desconfortos?". Eu busco outra coisa por um impulso de não aguentar, claro. Se eu percebi que isso é tóxico e que não tenho força para isso, faço uma escolha. Mas não adianta sair achando que vai encontrar um paraíso no outro tipo de trabalho. Vai se deparar também com pessoas imperfeitas, pessoas egocêntricas e pessoas que querem tirar vantagem em todos os lugares. Há pesquisas mostrando que as pessoas não aceitam mais certas condições e é importante que tenham esse estágio, essa ação de não passividade, mas também precisamos ter cuidado para não largar a toalha de uma maneira impulsiva e inconsciente. E esse processo pode não resultar em um bom caminho.
Vinicio Chechetto - Eu penso que tudo começa com autoconhecimento, conhecer e entender o nosso potencial. Conhecer nossas fraquezas, gatilhos, padrões repetitivos.
Porque o pensamento também é uma forma e uma palavra. A gente pensa com palavras, formas e imagens. E quando conhecemos nossa essência, conseguimos ir além das palavras. Então, chega o ponto para encontrar a justa medida, o fim de um ciclo. Vou caminhar e caminho bem e fecho bem. Para ter certeza precisamos do autoconhecimento. Então sim, essa vivência de prestar atenção em si vai abrindo caminhos. Normalmente nós ficamos prisioneiros de um olhar superficial, externo, sem aprofundar e ter a percepção da nossa essência.
Vinicio Chechetto - Talvez, porque o amor não exclui momentos de dor. Momentos de separação. Nós vivemos a experiência humana também no trabalho. Então, pode ser uma fase adocicada ou enganosa. Tem coisas, situações que devemos repelir mesmo, como a violência e a desqualificação, a discriminação, um viés de desumanidade. Claro que você também chega a um certo momento, mesmo gostando, apreciando o que você faz, ao seu limite físico, um limite de exaustão. Mas é importante viver essa experiência de estar consciente de que não se gosta, acolher mesmo. Esse 'não gostar' também é compreender o que ele traz de energia. Por que ele toca certos dínamos: mentais, emocionais e até físicos.
Vinicio Chechetto - A auto investigação. É o princípio de tudo.
E ao realizá-la isso amplia, aumenta meu bem-estar. Mas é preciso conhecer a nossa força e conhecer também o que não queremos, porque isso nos corrói, nos distrai. Eu estou buscando uma posição de diretoria, ok? Quando for diretor, o que isso vai simbolizar? Há muito trabalho, muito dinheiro, muito poder, é certo. E o que mais? Porque se não cuidar, vai ter muita infelicidade também. De onde vêm as perguntas que você escolheu fazer? Vem de uma busca, de uma intuição?
Crescemos ouvindo que podemos "ser tudo", mas nem sempre sabemos o que esse "tudo" significa. E saímos em busca do trabalho dos sonhos, aquele que nos preenche e nos abastece diariamente de alegria, propósito, amor.
Mas o trabalho dos sonhos realmente existe? Para investigar as inúmeras possibilidades de resposta para esta pergunta, conversamos com o filósofo e psicólogo Vinicio Chechetto, sócio Wisnet, sobre propósito, relações de trabalho e amor. Sim, amor.
Vinicio Chechetto - Existe. Acho que a gente pode caracterizar, como um exemplo, que o trabalho [dos sonhos] contribui para a sua dignidade. É aquele que tem um espaço onde você pode ampliar seu potencial. Até acessar o seu pleno potencial, digamos. Sim, ele existe.
Mas não esperemos muito que ele esteja lá ou cá, nesta ou naquela empresa. Não. Há uma expressão de Santo Agostinho que diz:
Eu posso transformar meu ambiente, meu trabalho, num lugar de expressão do meu ser, de minha qualidade, de minha inteligência, de meu relacionamento e mesmo de amor. O ambiente do sonho é um ambiente desafiador, estimulante e confiável. Neste sentido, como você pode contribuir para ter as condições e o ambiente que precisa para ser feliz?
Vinicio Chechetto - Das mais diversas formas, quando nós buscamos algo tem - por detrás, em última análise -, bem mais do que apenas remuneração. Se eu dissesse que você tem R$60 milhões para receber na sua conta, você quer esses R$60 milhões? Provavelmente, sim. Só que tem uma condição: para receber esses R$60 milhões, você vai ficar infeliz, muito infeliz. Você topa? Não, claro que não! Então, o que você busca?
As novas gerações acentuam mais a consciência para a importância da auto realização. É uma forma de impulso para buscar, em última análise, harmonia, tranquilidade. É que muitas vezes não está onde a gente busca, mas ela é um impulso. Ela está indicando, movendo. É algo que todos nós experimentamos e cada vez mais parece que as pessoas acordam para isso. Mesmo aqueles que queriam ficar 40, 50, 60 anos numa empresa, e no fundo tinham uma ilusão ou um desejo de estar no trabalho dos sonhos. Porque, de um jeito ou de outro, ele indica onde nós queremos chegar.
Vinicio Chechetto - É uma ótima questão. Temos uma questão que é a personalidade, o jeito de ser e de agir de Vinicio, João, Mário e o papai e a mamãe, os papéis, gestores etc. A personalidade, por definição, ela sempre manifestará insatisfações. A inquietude, no fundo, é a busca por acessar a nossa natureza mais profunda.
E é muito fácil jogar a toalha e sair procurando outro emprego, outro trabalho, outro desafio. Porque nós queremos com isso uma paz ativa. Todos nós carregamos um diálogo interno. Eu carrego a contradição em mim mesmo. E muitas vezes, ao jogar a toalha com simplicidade ou com superficialidade, nos lançamos num círculo vicioso, que não nos ajuda a encontrar o que queremos.
É importante a gente ter essa compreensão no mundo do trabalho. Nós não vamos ter sempre o gestor que nós sonhamos, o ambiente que nós sonhamos, os colegas que sonhamos, porque há imperfeições. E nós nos defrontamos com imperfeições, com falhas, com ego, com ambições dentro de nós mesmos, inclusive. Isso incomoda, eu sei. Mas aí eu posso usar isso como energia, como degrau, em vez de um obstáculo, para tomar consciência.
Uma vez, um participante num evento em que eu estava, falou: "Eu sou grato pelo meu câncer". E aí ele contou toda uma história de como ele vivia antes da doença e dos aprendizados que ela trouxe. Não que seja desejável. Não que busquemos histórias assim. Mas ao encontrar esse câncer, ele recuperou seus relacionamentos de uma maneira admirável.
Vinicio Chechetto - Grande parte não está. E nós convivemos com muitos RH, muitos clientes, e em especial com lideranças. Então, você encontra hoje ainda liderança na lógica de comando e controle. E essa lógica tem um pressuposto: "eu sou mais e você, menos". "E você vai aprender comigo de uma maneira que você me deve esse aprendizado depois". "Você presta atenção, faz o que eu digo e aqui você vai se dar bem". Isso não é compartilhamento.
Ainda há muitas pessoas que acreditam profundamente que possuem poder na relação de trabalho. Elas pensam: "Eu sentei, eu peguei meu lugar, minha cadeira, e então agora eu digo, mando, avalio, demito. Então, as coisas vão acontecer!". E as coisas não saem. Mas tem bastante gente pensando assim.
Então, voltando naquele ponto, quando você diz "E os desconfortos?". Eu busco outra coisa por um impulso de não aguentar, claro. Se eu percebi que isso é tóxico e que não tenho força para isso, faço uma escolha. Mas não adianta sair achando que vai encontrar um paraíso no outro tipo de trabalho. Vai se deparar também com pessoas imperfeitas, pessoas egocêntricas e pessoas que querem tirar vantagem em todos os lugares. Há pesquisas mostrando que as pessoas não aceitam mais certas condições e é importante que tenham esse estágio, essa ação de não passividade, mas também precisamos ter cuidado para não largar a toalha de uma maneira impulsiva e inconsciente. E esse processo pode não resultar em um bom caminho.
Vinicio Chechetto - Eu penso que tudo começa com autoconhecimento, conhecer e entender o nosso potencial. Conhecer nossas fraquezas, gatilhos, padrões repetitivos.
Porque o pensamento também é uma forma e uma palavra. A gente pensa com palavras, formas e imagens. E quando conhecemos nossa essência, conseguimos ir além das palavras. Então, chega o ponto para encontrar a justa medida, o fim de um ciclo. Vou caminhar e caminho bem e fecho bem. Para ter certeza precisamos do autoconhecimento. Então sim, essa vivência de prestar atenção em si vai abrindo caminhos. Normalmente nós ficamos prisioneiros de um olhar superficial, externo, sem aprofundar e ter a percepção da nossa essência.
Vinicio Chechetto - Talvez, porque o amor não exclui momentos de dor. Momentos de separação. Nós vivemos a experiência humana também no trabalho. Então, pode ser uma fase adocicada ou enganosa. Tem coisas, situações que devemos repelir mesmo, como a violência e a desqualificação, a discriminação, um viés de desumanidade. Claro que você também chega a um certo momento, mesmo gostando, apreciando o que você faz, ao seu limite físico, um limite de exaustão. Mas é importante viver essa experiência de estar consciente de que não se gosta, acolher mesmo. Esse 'não gostar' também é compreender o que ele traz de energia. Por que ele toca certos dínamos: mentais, emocionais e até físicos.
Vinicio Chechetto - A auto investigação. É o princípio de tudo.
E ao realizá-la isso amplia, aumenta meu bem-estar. Mas é preciso conhecer a nossa força e conhecer também o que não queremos, porque isso nos corrói, nos distrai. Eu estou buscando uma posição de diretoria, ok? Quando for diretor, o que isso vai simbolizar? Há muito trabalho, muito dinheiro, muito poder, é certo. E o que mais? Porque se não cuidar, vai ter muita infelicidade também. De onde vêm as perguntas que você escolheu fazer? Vem de uma busca, de uma intuição?
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