O trabalho dos sonhos existe? Entrevista com Vinicio Chechetto.

O trabalho dos sonhos existe? Entrevista com Vinicio Chechetto.

O trabalho dos sonhos existe? Entrevista com Vinicio Chechetto.

O trabalho dos sonhos existe? Entrevista com Vinicio Chechetto.

O trabalho dos sonhos existe? Entrevista com Vinicio Chechetto.

Wisnet_Redes_LinkedIn_23.06.21

Crescemos ouvindo que podemos "ser tudo", mas nem sempre sabemos o que esse "tudo" significa. E saímos em busca do trabalho dos sonhos, aquele que nos preenche e nos abastece diariamente de alegria, propósito, amor.

Mas o trabalho dos sonhos realmente existe? Para investigar as inúmeras possibilidades de resposta para esta pergunta, conversamos com o filósofo e psicólogo Vinicio Chechetto, sócio Wisnet, sobre propósito, relações de trabalho e amor. Sim, amor.

Essa ideia de "trabalho dos sonhos", ela ainda existe ou é uma lenda?

Vinicio Chechetto - Existe. Acho que a gente pode caracterizar, como um exemplo, que o trabalho [dos sonhos] contribui para a sua dignidade. É aquele que tem um espaço onde você pode ampliar seu potencial. Até acessar o seu pleno potencial, digamos. Sim, ele existe.

Mas não esperemos muito que ele esteja lá ou cá, nesta ou naquela empresa. Não. Há uma expressão de Santo Agostinho que diz:

"Se você não tem tudo o que ama, ame tudo o que você tem".

Eu posso transformar meu ambiente, meu trabalho, num lugar de expressão do meu ser, de minha qualidade, de minha inteligência, de meu relacionamento e mesmo de amor. O ambiente do sonho é um ambiente desafiador, estimulante e confiável. Neste sentido, como você pode contribuir para ter as condições e o ambiente que precisa para ser feliz?

Na sua opinião, porque as novas gerações estão tão "obcecadas" com essa lógica de que elas precisam ser muito felizes no trabalho, senão o trabalho não vale a pena?

Vinicio Chechetto - Das mais diversas formas, quando nós buscamos algo tem - por detrás, em última análise -, bem mais do que apenas remuneração. Se eu dissesse que você tem R$60 milhões para receber na sua conta, você quer esses R$60 milhões? Provavelmente, sim. Só que tem uma condição: para receber esses R$60 milhões, você vai ficar infeliz, muito infeliz. Você topa? Não, claro que não! Então, o que você busca?

As novas gerações acentuam mais a consciência para a importância da auto realização. É uma forma de impulso para buscar, em última análise, harmonia, tranquilidade. É que muitas vezes não está onde a gente busca, mas ela é um impulso. Ela está indicando, movendo. É algo que todos nós experimentamos e cada vez mais parece que as pessoas acordam para isso. Mesmo aqueles que queriam ficar 40, 50, 60 anos numa empresa, e no fundo tinham uma ilusão ou um desejo de estar no trabalho dos sonhos. Porque, de um jeito ou de outro, ele indica onde nós queremos chegar.

Se fosse para resumir, então, eu diria que as novas gerações estão nessa busca pelo "emprego dos sonhos" de maneira tão empenhada porque é também uma busca pela felicidade duradoura, verdadeira, real.

Estamos sabendo lidar com os incômodos naturais do dia a dia de trabalho? Ou idealizamos tanto uma relação de trabalho que quando ela vem e traz incômodos, desconfortos, jogamos a toalha rápido?

Vinicio Chechetto - É uma ótima questão. Temos uma questão que é a personalidade, o jeito de ser e de agir de Vinicio, João, Mário e o papai e a mamãe, os papéis, gestores etc. A personalidade, por definição, ela sempre manifestará insatisfações. A inquietude, no fundo, é a busca por acessar a nossa natureza mais profunda.

Então, acho que a tua pergunta já contém uma resposta. Muitas vezes o obstáculo é um degrau. E hoje "jogamos a toalha". Acho tão bonita essa expressão!

E é muito fácil jogar a toalha e sair procurando outro emprego, outro trabalho, outro desafio. Porque nós queremos com isso uma paz ativa. Todos nós carregamos um diálogo interno. Eu carrego a contradição em mim mesmo. E muitas vezes, ao jogar a toalha com simplicidade ou com superficialidade, nos lançamos num círculo vicioso, que não nos ajuda a encontrar o que queremos.

É importante a gente ter essa compreensão no mundo do trabalho. Nós não vamos ter sempre o gestor que nós sonhamos, o ambiente que nós sonhamos, os colegas que sonhamos, porque há imperfeições. E nós nos defrontamos com imperfeições, com falhas, com ego, com ambições dentro de nós mesmos, inclusive. Isso incomoda, eu sei. Mas aí eu posso usar isso como energia, como degrau, em vez de um obstáculo, para tomar consciência.

Uma vez, um participante num evento em que eu estava, falou: "Eu sou grato pelo meu câncer". E aí ele contou toda uma história de como ele vivia antes da doença e dos aprendizados que ela trouxe. Não que seja desejável. Não que busquemos histórias assim. Mas ao encontrar esse câncer, ele recuperou seus relacionamentos de uma maneira admirável.

É importante saber que toda a dor é uma informação. Toda dor aponta para algo que pode significar maior consciência. Então, ao fugir ou ao querer apenas um trabalho confortável, sem desafios, posso estar em busca de um bem estar artificialmente, não permanente. Eu posso estar me enganando em vez de evoluir. Então, se eu estou em uma busca desenfreada de algo mais e mais confortável, vai chegar a hora em que vai ficar tóxico.

Por outro lado, você acha que as empresas e as organizações estão preparadas para ser o trabalho dos sonhos de alguém?

Vinicio Chechetto - Grande parte não está. E nós convivemos com muitos RH, muitos clientes, e em especial com lideranças. Então, você encontra hoje ainda liderança na lógica de comando e controle. E essa lógica tem um pressuposto: "eu sou mais e você, menos". "E você vai aprender comigo de uma maneira que você me deve esse aprendizado depois". "Você presta atenção, faz o que eu digo e aqui você vai se dar bem". Isso não é compartilhamento.

Ainda há muitas pessoas que acreditam profundamente que possuem poder na relação de trabalho. Elas pensam: "Eu sentei, eu peguei meu lugar, minha cadeira, e então agora eu digo, mando, avalio, demito. Então, as coisas vão acontecer!". E as coisas não saem. Mas tem bastante gente pensando assim.

Quando um RH escolhe um líder, ele senta na cadeira e muda as relações. Não quer mais proximidade e quer uma dependência de papel. O papel é diferente, mas eu posso ter humanidade, eu posso ter proximidade, eu posso ter compreensão e eu posso me ver também nessa relação, porque o outro é um espelho sempre para mim.

Então, voltando naquele ponto, quando você diz "E os desconfortos?". Eu busco outra coisa por um impulso de não aguentar, claro. Se eu percebi que isso é tóxico e que não tenho força para isso, faço uma escolha. Mas não adianta sair achando que vai encontrar um paraíso no outro tipo de trabalho. Vai se deparar também com pessoas imperfeitas, pessoas egocêntricas e pessoas que querem tirar vantagem em todos os lugares. Há pesquisas mostrando que as pessoas não aceitam mais certas condições e é importante que tenham esse estágio, essa ação de não passividade, mas também precisamos ter cuidado para não largar a toalha de uma maneira impulsiva e inconsciente. E esse processo pode não resultar em um bom caminho.

A medida entre a entender essa lógica de que as dificuldades fazem crescer e a decisão de jogar a toalha. Como aferimos?

Vinicio Chechetto - Eu penso que tudo começa com autoconhecimento, conhecer e entender o nosso potencial. Conhecer nossas fraquezas, gatilhos, padrões repetitivos.

Mas nossa essência, que não é conhecida com palavras, pensamentos, é conhecida com esvaziamento ou silêncio. Com quietude. Como ir além do pensar?

Porque o pensamento também é uma forma e uma palavra. A gente pensa com palavras, formas e imagens. E quando conhecemos nossa essência, conseguimos ir além das palavras. Então, chega o ponto para encontrar a justa medida, o fim de um ciclo. Vou caminhar e caminho bem e fecho bem. Para ter certeza precisamos do autoconhecimento. Então sim, essa vivência de prestar atenção em si vai abrindo caminhos. Normalmente nós ficamos prisioneiros de um olhar superficial, externo, sem aprofundar e ter a percepção da nossa essência.

Uma frase bastante conhecida nos diz que "se você ama o que você faz, você nunca trabalhará um dia em sua vida". Essa frase, em certa medida, te incomoda?

Vinicio Chechetto - Talvez, porque o amor não exclui momentos de dor. Momentos de separação. Nós vivemos a experiência humana também no trabalho. Então, pode ser uma fase adocicada ou enganosa. Tem coisas, situações que devemos repelir mesmo, como a violência e a desqualificação, a discriminação, um viés de desumanidade. Claro que você também chega a um certo momento, mesmo gostando, apreciando o que você faz, ao seu limite físico, um limite de exaustão. Mas é importante viver essa experiência de estar consciente de que não se gosta, acolher mesmo. Esse 'não gostar' também é compreender o que ele traz de energia. Por que ele toca certos dínamos: mentais, emocionais e até físicos.

Talvez essa frase incomode porque ela oferece uma receita pronta. É uma promessa que não se compra e depois não outorga aquilo que promete. Aliás, nem um objeto cumpre plenamente o que promete. Nem uma Ferrari, nem um ambiente de trabalho. Ele, por si, pode contribuir. Mas onde está o diamante? Está no meu bolso, não lá fora.

Como identificar o trabalho que realmente se conecta com o seu propósito?

Vinicio Chechetto - A auto investigação. É o princípio de tudo.

  • O que é que eu sou?
  • Quem eu sou?
  • O que eu tenho feito?
  • Quais são os meus talentos?

E ao realizá-la isso amplia, aumenta meu bem-estar. Mas é preciso conhecer a nossa força e conhecer também o que não queremos, porque isso nos corrói, nos distrai. Eu estou buscando uma posição de diretoria, ok? Quando for diretor, o que isso vai simbolizar? Há muito trabalho, muito dinheiro, muito poder, é certo. E o que mais? Porque se não cuidar, vai ter muita infelicidade também. De onde vêm as perguntas que você escolheu fazer? Vem de uma busca, de uma intuição?

No fundo, todos nós nos encontramos no mesmo desejo, no mesmo sonho. O sonho que você sonha é o meu sonho. Porque eu não sou separado de você. Nascemos da mesma substância.

Crescemos ouvindo que podemos "ser tudo", mas nem sempre sabemos o que esse "tudo" significa. E saímos em busca do trabalho dos sonhos, aquele que nos preenche e nos abastece diariamente de alegria, propósito, amor.

Mas o trabalho dos sonhos realmente existe? Para investigar as inúmeras possibilidades de resposta para esta pergunta, conversamos com o filósofo e psicólogo Vinicio Chechetto, sócio Wisnet, sobre propósito, relações de trabalho e amor. Sim, amor.

Essa ideia de "trabalho dos sonhos", ela ainda existe ou é uma lenda?

Vinicio Chechetto - Existe. Acho que a gente pode caracterizar, como um exemplo, que o trabalho [dos sonhos] contribui para a sua dignidade. É aquele que tem um espaço onde você pode ampliar seu potencial. Até acessar o seu pleno potencial, digamos. Sim, ele existe.

Mas não esperemos muito que ele esteja lá ou cá, nesta ou naquela empresa. Não. Há uma expressão de Santo Agostinho que diz:

"Se você não tem tudo o que ama, ame tudo o que você tem".

Eu posso transformar meu ambiente, meu trabalho, num lugar de expressão do meu ser, de minha qualidade, de minha inteligência, de meu relacionamento e mesmo de amor. O ambiente do sonho é um ambiente desafiador, estimulante e confiável. Neste sentido, como você pode contribuir para ter as condições e o ambiente que precisa para ser feliz?

Na sua opinião, porque as novas gerações estão tão "obcecadas" com essa lógica de que elas precisam ser muito felizes no trabalho, senão o trabalho não vale a pena?

Vinicio Chechetto - Das mais diversas formas, quando nós buscamos algo tem - por detrás, em última análise -, bem mais do que apenas remuneração. Se eu dissesse que você tem R$60 milhões para receber na sua conta, você quer esses R$60 milhões? Provavelmente, sim. Só que tem uma condição: para receber esses R$60 milhões, você vai ficar infeliz, muito infeliz. Você topa? Não, claro que não! Então, o que você busca?

As novas gerações acentuam mais a consciência para a importância da auto realização. É uma forma de impulso para buscar, em última análise, harmonia, tranquilidade. É que muitas vezes não está onde a gente busca, mas ela é um impulso. Ela está indicando, movendo. É algo que todos nós experimentamos e cada vez mais parece que as pessoas acordam para isso. Mesmo aqueles que queriam ficar 40, 50, 60 anos numa empresa, e no fundo tinham uma ilusão ou um desejo de estar no trabalho dos sonhos. Porque, de um jeito ou de outro, ele indica onde nós queremos chegar.

Se fosse para resumir, então, eu diria que as novas gerações estão nessa busca pelo "emprego dos sonhos" de maneira tão empenhada porque é também uma busca pela felicidade duradoura, verdadeira, real.

Estamos sabendo lidar com os incômodos naturais do dia a dia de trabalho? Ou idealizamos tanto uma relação de trabalho que quando ela vem e traz incômodos, desconfortos, jogamos a toalha rápido?

Vinicio Chechetto - É uma ótima questão. Temos uma questão que é a personalidade, o jeito de ser e de agir de Vinicio, João, Mário e o papai e a mamãe, os papéis, gestores etc. A personalidade, por definição, ela sempre manifestará insatisfações. A inquietude, no fundo, é a busca por acessar a nossa natureza mais profunda.

Então, acho que a tua pergunta já contém uma resposta. Muitas vezes o obstáculo é um degrau. E hoje "jogamos a toalha". Acho tão bonita essa expressão!

E é muito fácil jogar a toalha e sair procurando outro emprego, outro trabalho, outro desafio. Porque nós queremos com isso uma paz ativa. Todos nós carregamos um diálogo interno. Eu carrego a contradição em mim mesmo. E muitas vezes, ao jogar a toalha com simplicidade ou com superficialidade, nos lançamos num círculo vicioso, que não nos ajuda a encontrar o que queremos.

É importante a gente ter essa compreensão no mundo do trabalho. Nós não vamos ter sempre o gestor que nós sonhamos, o ambiente que nós sonhamos, os colegas que sonhamos, porque há imperfeições. E nós nos defrontamos com imperfeições, com falhas, com ego, com ambições dentro de nós mesmos, inclusive. Isso incomoda, eu sei. Mas aí eu posso usar isso como energia, como degrau, em vez de um obstáculo, para tomar consciência.

Uma vez, um participante num evento em que eu estava, falou: "Eu sou grato pelo meu câncer". E aí ele contou toda uma história de como ele vivia antes da doença e dos aprendizados que ela trouxe. Não que seja desejável. Não que busquemos histórias assim. Mas ao encontrar esse câncer, ele recuperou seus relacionamentos de uma maneira admirável.

É importante saber que toda a dor é uma informação. Toda dor aponta para algo que pode significar maior consciência. Então, ao fugir ou ao querer apenas um trabalho confortável, sem desafios, posso estar em busca de um bem estar artificialmente, não permanente. Eu posso estar me enganando em vez de evoluir. Então, se eu estou em uma busca desenfreada de algo mais e mais confortável, vai chegar a hora em que vai ficar tóxico.

Por outro lado, você acha que as empresas e as organizações estão preparadas para ser o trabalho dos sonhos de alguém?

Vinicio Chechetto - Grande parte não está. E nós convivemos com muitos RH, muitos clientes, e em especial com lideranças. Então, você encontra hoje ainda liderança na lógica de comando e controle. E essa lógica tem um pressuposto: "eu sou mais e você, menos". "E você vai aprender comigo de uma maneira que você me deve esse aprendizado depois". "Você presta atenção, faz o que eu digo e aqui você vai se dar bem". Isso não é compartilhamento.

Ainda há muitas pessoas que acreditam profundamente que possuem poder na relação de trabalho. Elas pensam: "Eu sentei, eu peguei meu lugar, minha cadeira, e então agora eu digo, mando, avalio, demito. Então, as coisas vão acontecer!". E as coisas não saem. Mas tem bastante gente pensando assim.

Quando um RH escolhe um líder, ele senta na cadeira e muda as relações. Não quer mais proximidade e quer uma dependência de papel. O papel é diferente, mas eu posso ter humanidade, eu posso ter proximidade, eu posso ter compreensão e eu posso me ver também nessa relação, porque o outro é um espelho sempre para mim.

Então, voltando naquele ponto, quando você diz "E os desconfortos?". Eu busco outra coisa por um impulso de não aguentar, claro. Se eu percebi que isso é tóxico e que não tenho força para isso, faço uma escolha. Mas não adianta sair achando que vai encontrar um paraíso no outro tipo de trabalho. Vai se deparar também com pessoas imperfeitas, pessoas egocêntricas e pessoas que querem tirar vantagem em todos os lugares. Há pesquisas mostrando que as pessoas não aceitam mais certas condições e é importante que tenham esse estágio, essa ação de não passividade, mas também precisamos ter cuidado para não largar a toalha de uma maneira impulsiva e inconsciente. E esse processo pode não resultar em um bom caminho.

A medida entre a entender essa lógica de que as dificuldades fazem crescer e a decisão de jogar a toalha. Como aferimos?

Vinicio Chechetto - Eu penso que tudo começa com autoconhecimento, conhecer e entender o nosso potencial. Conhecer nossas fraquezas, gatilhos, padrões repetitivos.

Mas nossa essência, que não é conhecida com palavras, pensamentos, é conhecida com esvaziamento ou silêncio. Com quietude. Como ir além do pensar?

Porque o pensamento também é uma forma e uma palavra. A gente pensa com palavras, formas e imagens. E quando conhecemos nossa essência, conseguimos ir além das palavras. Então, chega o ponto para encontrar a justa medida, o fim de um ciclo. Vou caminhar e caminho bem e fecho bem. Para ter certeza precisamos do autoconhecimento. Então sim, essa vivência de prestar atenção em si vai abrindo caminhos. Normalmente nós ficamos prisioneiros de um olhar superficial, externo, sem aprofundar e ter a percepção da nossa essência.

Uma frase bastante conhecida nos diz que "se você ama o que você faz, você nunca trabalhará um dia em sua vida". Essa frase, em certa medida, te incomoda?

Vinicio Chechetto - Talvez, porque o amor não exclui momentos de dor. Momentos de separação. Nós vivemos a experiência humana também no trabalho. Então, pode ser uma fase adocicada ou enganosa. Tem coisas, situações que devemos repelir mesmo, como a violência e a desqualificação, a discriminação, um viés de desumanidade. Claro que você também chega a um certo momento, mesmo gostando, apreciando o que você faz, ao seu limite físico, um limite de exaustão. Mas é importante viver essa experiência de estar consciente de que não se gosta, acolher mesmo. Esse 'não gostar' também é compreender o que ele traz de energia. Por que ele toca certos dínamos: mentais, emocionais e até físicos.

Talvez essa frase incomode porque ela oferece uma receita pronta. É uma promessa que não se compra e depois não outorga aquilo que promete. Aliás, nem um objeto cumpre plenamente o que promete. Nem uma Ferrari, nem um ambiente de trabalho. Ele, por si, pode contribuir. Mas onde está o diamante? Está no meu bolso, não lá fora.

Como identificar o trabalho que realmente se conecta com o seu propósito?

Vinicio Chechetto - A auto investigação. É o princípio de tudo.

  • O que é que eu sou?
  • Quem eu sou?
  • O que eu tenho feito?
  • Quais são os meus talentos?

E ao realizá-la isso amplia, aumenta meu bem-estar. Mas é preciso conhecer a nossa força e conhecer também o que não queremos, porque isso nos corrói, nos distrai. Eu estou buscando uma posição de diretoria, ok? Quando for diretor, o que isso vai simbolizar? Há muito trabalho, muito dinheiro, muito poder, é certo. E o que mais? Porque se não cuidar, vai ter muita infelicidade também. De onde vêm as perguntas que você escolheu fazer? Vem de uma busca, de uma intuição?

No fundo, todos nós nos encontramos no mesmo desejo, no mesmo sonho. O sonho que você sonha é o meu sonho. Porque eu não sou separado de você. Nascemos da mesma substância.

Crescemos ouvindo que podemos "ser tudo", mas nem sempre sabemos o que esse "tudo" significa. E saímos em busca do trabalho dos sonhos, aquele que nos preenche e nos abastece diariamente de alegria, propósito, amor.

Mas o trabalho dos sonhos realmente existe? Para investigar as inúmeras possibilidades de resposta para esta pergunta, conversamos com o filósofo e psicólogo Vinicio Chechetto, sócio Wisnet, sobre propósito, relações de trabalho e amor. Sim, amor.

Essa ideia de "trabalho dos sonhos", ela ainda existe ou é uma lenda?

Vinicio Chechetto - Existe. Acho que a gente pode caracterizar, como um exemplo, que o trabalho [dos sonhos] contribui para a sua dignidade. É aquele que tem um espaço onde você pode ampliar seu potencial. Até acessar o seu pleno potencial, digamos. Sim, ele existe.

Mas não esperemos muito que ele esteja lá ou cá, nesta ou naquela empresa. Não. Há uma expressão de Santo Agostinho que diz:

"Se você não tem tudo o que ama, ame tudo o que você tem".

Eu posso transformar meu ambiente, meu trabalho, num lugar de expressão do meu ser, de minha qualidade, de minha inteligência, de meu relacionamento e mesmo de amor. O ambiente do sonho é um ambiente desafiador, estimulante e confiável. Neste sentido, como você pode contribuir para ter as condições e o ambiente que precisa para ser feliz?

Na sua opinião, porque as novas gerações estão tão "obcecadas" com essa lógica de que elas precisam ser muito felizes no trabalho, senão o trabalho não vale a pena?

Vinicio Chechetto - Das mais diversas formas, quando nós buscamos algo tem - por detrás, em última análise -, bem mais do que apenas remuneração. Se eu dissesse que você tem R$60 milhões para receber na sua conta, você quer esses R$60 milhões? Provavelmente, sim. Só que tem uma condição: para receber esses R$60 milhões, você vai ficar infeliz, muito infeliz. Você topa? Não, claro que não! Então, o que você busca?

As novas gerações acentuam mais a consciência para a importância da auto realização. É uma forma de impulso para buscar, em última análise, harmonia, tranquilidade. É que muitas vezes não está onde a gente busca, mas ela é um impulso. Ela está indicando, movendo. É algo que todos nós experimentamos e cada vez mais parece que as pessoas acordam para isso. Mesmo aqueles que queriam ficar 40, 50, 60 anos numa empresa, e no fundo tinham uma ilusão ou um desejo de estar no trabalho dos sonhos. Porque, de um jeito ou de outro, ele indica onde nós queremos chegar.

Se fosse para resumir, então, eu diria que as novas gerações estão nessa busca pelo "emprego dos sonhos" de maneira tão empenhada porque é também uma busca pela felicidade duradoura, verdadeira, real.

Estamos sabendo lidar com os incômodos naturais do dia a dia de trabalho? Ou idealizamos tanto uma relação de trabalho que quando ela vem e traz incômodos, desconfortos, jogamos a toalha rápido?

Vinicio Chechetto - É uma ótima questão. Temos uma questão que é a personalidade, o jeito de ser e de agir de Vinicio, João, Mário e o papai e a mamãe, os papéis, gestores etc. A personalidade, por definição, ela sempre manifestará insatisfações. A inquietude, no fundo, é a busca por acessar a nossa natureza mais profunda.

Então, acho que a tua pergunta já contém uma resposta. Muitas vezes o obstáculo é um degrau. E hoje "jogamos a toalha". Acho tão bonita essa expressão!

E é muito fácil jogar a toalha e sair procurando outro emprego, outro trabalho, outro desafio. Porque nós queremos com isso uma paz ativa. Todos nós carregamos um diálogo interno. Eu carrego a contradição em mim mesmo. E muitas vezes, ao jogar a toalha com simplicidade ou com superficialidade, nos lançamos num círculo vicioso, que não nos ajuda a encontrar o que queremos.

É importante a gente ter essa compreensão no mundo do trabalho. Nós não vamos ter sempre o gestor que nós sonhamos, o ambiente que nós sonhamos, os colegas que sonhamos, porque há imperfeições. E nós nos defrontamos com imperfeições, com falhas, com ego, com ambições dentro de nós mesmos, inclusive. Isso incomoda, eu sei. Mas aí eu posso usar isso como energia, como degrau, em vez de um obstáculo, para tomar consciência.

Uma vez, um participante num evento em que eu estava, falou: "Eu sou grato pelo meu câncer". E aí ele contou toda uma história de como ele vivia antes da doença e dos aprendizados que ela trouxe. Não que seja desejável. Não que busquemos histórias assim. Mas ao encontrar esse câncer, ele recuperou seus relacionamentos de uma maneira admirável.

É importante saber que toda a dor é uma informação. Toda dor aponta para algo que pode significar maior consciência. Então, ao fugir ou ao querer apenas um trabalho confortável, sem desafios, posso estar em busca de um bem estar artificialmente, não permanente. Eu posso estar me enganando em vez de evoluir. Então, se eu estou em uma busca desenfreada de algo mais e mais confortável, vai chegar a hora em que vai ficar tóxico.

Por outro lado, você acha que as empresas e as organizações estão preparadas para ser o trabalho dos sonhos de alguém?

Vinicio Chechetto - Grande parte não está. E nós convivemos com muitos RH, muitos clientes, e em especial com lideranças. Então, você encontra hoje ainda liderança na lógica de comando e controle. E essa lógica tem um pressuposto: "eu sou mais e você, menos". "E você vai aprender comigo de uma maneira que você me deve esse aprendizado depois". "Você presta atenção, faz o que eu digo e aqui você vai se dar bem"Isso não é compartilhamento.

Ainda há muitas pessoas que acreditam profundamente que possuem poder na relação de trabalho. Elas pensam: "Eu sentei, eu peguei meu lugar, minha cadeira, e então agora eu digo, mando, avalio, demito. Então, as coisas vão acontecer!". E as coisas não saem. Mas tem bastante gente pensando assim.

Quando um RH escolhe um líder, ele senta na cadeira e muda as relações. Não quer mais proximidade e quer uma dependência de papel. O papel é diferente, mas eu posso ter humanidade, eu posso ter proximidade, eu posso ter compreensão e eu posso me ver também nessa relação, porque o outro é um espelho sempre para mim.

Então, voltando naquele ponto, quando você diz "E os desconfortos?". Eu busco outra coisa por um impulso de não aguentar, claro. Se eu percebi que isso é tóxico e que não tenho força para isso, faço uma escolha. Mas não adianta sair achando que vai encontrar um paraíso no outro tipo de trabalho. Vai se deparar também com pessoas imperfeitas, pessoas egocêntricas e pessoas que querem tirar vantagem em todos os lugares. Há pesquisas mostrando que as pessoas não aceitam mais certas condições e é importante que tenham esse estágio, essa ação de não passividade, mas também precisamos ter cuidado para não largar a toalha de uma maneira impulsiva e inconsciente. E esse processo pode não resultar em um bom caminho.

A medida entre a entender essa lógica de que as dificuldades fazem crescer e a decisão de jogar a toalha. Como aferimos?

Vinicio Chechetto - Eu penso que tudo começa com autoconhecimento, conhecer e entender o nosso potencial. Conhecer nossas fraquezas, gatilhos, padrões repetitivos.

Mas nossa essência, que não é conhecida com palavras, pensamentos, é conhecida com esvaziamento ou silêncio. Com quietude. Como ir além do pensar?

Porque o pensamento também é uma forma e uma palavra. A gente pensa com palavras, formas e imagens. E quando conhecemos nossa essência, conseguimos ir além das palavras. Então, chega o ponto para encontrar a justa medida, o fim de um ciclo. Vou caminhar e caminho bem e fecho bem. Para ter certeza precisamos do autoconhecimento. Então sim, essa vivência de prestar atenção em si vai abrindo caminhos. Normalmente nós ficamos prisioneiros de um olhar superficial, externo, sem aprofundar e ter a percepção da nossa essência.

Uma frase bastante conhecida nos diz que "se você ama o que você faz, você nunca trabalhará um dia em sua vida". Essa frase, em certa medida, te incomoda?
Vinicio Chechetto - Talvez, porque o amor não exclui momentos de dor. Momentos de separação. Nós vivemos a experiência humana também no trabalho. Então, pode ser uma fase adocicada ou enganosa. Tem coisas, situações que devemos repelir mesmo, como a violência e a desqualificação, a discriminação, um viés de desumanidade. Claro que você também chega a um certo momento, mesmo gostando, apreciando o que você faz, ao seu limite físico, um limite de exaustão. Mas é importante viver essa experiência de estar consciente de que não se gosta, acolher mesmo. Esse 'não gostar' também é compreender o que ele traz de energia. Por que ele toca certos dínamos: mentais, emocionais e até físicos.

Talvez essa frase incomode porque ela oferece uma receita pronta. É uma promessa que não se compra e depois não outorga aquilo que promete. Aliás, nem um objeto cumpre plenamente o que promete. Nem uma Ferrari, nem um ambiente de trabalho. Ele, por si, pode contribuir. Mas onde está o diamante? Está no meu bolso, não lá fora.

Como identificar o trabalho que realmente se conecta com o seu propósito?

Vinicio Chechetto - A auto investigação. É o princípio de tudo.

  • O que é que eu sou?
  • Quem eu sou?
  • O que eu tenho feito?
  • Quais são os meus talentos?

E ao realizá-la isso amplia, aumenta meu bem-estar. Mas é preciso conhecer a nossa força e conhecer também o que não queremos, porque isso nos corrói, nos distrai. Eu estou buscando uma posição de diretoria, ok? Quando for diretor, o que isso vai simbolizar? Há muito trabalho, muito dinheiro, muito poder, é certo. E o que mais? Porque se não cuidar, vai ter muita infelicidade também. De onde vêm as perguntas que você escolheu fazer? Vem de uma busca, de uma intuição?

No fundo, todos nós nos encontramos no mesmo desejo, no mesmo sonho. O sonho que você sonha é o meu sonho. Porque eu não sou separado de você. Nascemos da mesma substância.

Crescemos ouvindo que podemos "ser tudo", mas nem sempre sabemos o que esse "tudo" significa. E saímos em busca do trabalho dos sonhos, aquele que nos preenche e nos abastece diariamente de alegria, propósito, amor.

Mas o trabalho dos sonhos realmente existe? Para investigar as inúmeras possibilidades de resposta para esta pergunta, conversamos com o filósofo e psicólogo Vinicio Chechetto, sócio Wisnet, sobre propósito, relações de trabalho e amor. Sim, amor.

Essa ideia de "trabalho dos sonhos", ela ainda existe ou é uma lenda?

Vinicio Chechetto - Existe. Acho que a gente pode caracterizar, como um exemplo, que o trabalho [dos sonhos] contribui para a sua dignidade. É aquele que tem um espaço onde você pode ampliar seu potencial. Até acessar o seu pleno potencial, digamos. Sim, ele existe.

Mas não esperemos muito que ele esteja lá ou cá, nesta ou naquela empresa. Não. Há uma expressão de Santo Agostinho que diz:

"Se você não tem tudo o que ama, ame tudo o que você tem".

Eu posso transformar meu ambiente, meu trabalho, num lugar de expressão do meu ser, de minha qualidade, de minha inteligência, de meu relacionamento e mesmo de amor. O ambiente do sonho é um ambiente desafiador, estimulante e confiável. Neste sentido, como você pode contribuir para ter as condições e o ambiente que precisa para ser feliz?

Na sua opinião, porque as novas gerações estão tão "obcecadas" com essa lógica de que elas precisam ser muito felizes no trabalho, senão o trabalho não vale a pena?

Vinicio Chechetto - Das mais diversas formas, quando nós buscamos algo tem - por detrás, em última análise -, bem mais do que apenas remuneração. Se eu dissesse que você tem R$60 milhões para receber na sua conta, você quer esses R$60 milhões? Provavelmente, sim. Só que tem uma condição: para receber esses R$60 milhões, você vai ficar infeliz, muito infeliz. Você topa? Não, claro que não! Então, o que você busca?

As novas gerações acentuam mais a consciência para a importância da auto realização. É uma forma de impulso para buscar, em última análise, harmonia, tranquilidade. É que muitas vezes não está onde a gente busca, mas ela é um impulso. Ela está indicando, movendo. É algo que todos nós experimentamos e cada vez mais parece que as pessoas acordam para isso. Mesmo aqueles que queriam ficar 40, 50, 60 anos numa empresa, e no fundo tinham uma ilusão ou um desejo de estar no trabalho dos sonhos. Porque, de um jeito ou de outro, ele indica onde nós queremos chegar.

Se fosse para resumir, então, eu diria que as novas gerações estão nessa busca pelo "emprego dos sonhos" de maneira tão empenhada porque é também uma busca pela felicidade duradoura, verdadeira, real.

Estamos sabendo lidar com os incômodos naturais do dia a dia de trabalho? Ou idealizamos tanto uma relação de trabalho que quando ela vem e traz incômodos, desconfortos, jogamos a toalha rápido?

Vinicio Chechetto - É uma ótima questão. Temos uma questão que é a personalidade, o jeito de ser e de agir de Vinicio, João, Mário e o papai e a mamãe, os papéis, gestores etc. A personalidade, por definição, ela sempre manifestará insatisfações. A inquietude, no fundo, é a busca por acessar a nossa natureza mais profunda.

Então, acho que a tua pergunta já contém uma resposta. Muitas vezes o obstáculo é um degrau. E hoje "jogamos a toalha". Acho tão bonita essa expressão!

E é muito fácil jogar a toalha e sair procurando outro emprego, outro trabalho, outro desafio. Porque nós queremos com isso uma paz ativa. Todos nós carregamos um diálogo interno. Eu carrego a contradição em mim mesmo. E muitas vezes, ao jogar a toalha com simplicidade ou com superficialidade, nos lançamos num círculo vicioso, que não nos ajuda a encontrar o que queremos.

É importante a gente ter essa compreensão no mundo do trabalho. Nós não vamos ter sempre o gestor que nós sonhamos, o ambiente que nós sonhamos, os colegas que sonhamos, porque há imperfeições. E nós nos defrontamos com imperfeições, com falhas, com ego, com ambições dentro de nós mesmos, inclusive. Isso incomoda, eu sei. Mas aí eu posso usar isso como energia, como degrau, em vez de um obstáculo, para tomar consciência.

Uma vez, um participante num evento em que eu estava, falou: "Eu sou grato pelo meu câncer". E aí ele contou toda uma história de como ele vivia antes da doença e dos aprendizados que ela trouxe. Não que seja desejável. Não que busquemos histórias assim. Mas ao encontrar esse câncer, ele recuperou seus relacionamentos de uma maneira admirável.

É importante saber que toda a dor é uma informação. Toda dor aponta para algo que pode significar maior consciência. Então, ao fugir ou ao querer apenas um trabalho confortável, sem desafios, posso estar em busca de um bem estar artificialmente, não permanente. Eu posso estar me enganando em vez de evoluir. Então, se eu estou em uma busca desenfreada de algo mais e mais confortável, vai chegar a hora em que vai ficar tóxico.

Por outro lado, você acha que as empresas e as organizações estão preparadas para ser o trabalho dos sonhos de alguém?

Vinicio Chechetto - Grande parte não está. E nós convivemos com muitos RH, muitos clientes, e em especial com lideranças. Então, você encontra hoje ainda liderança na lógica de comando e controle. E essa lógica tem um pressuposto: "eu sou mais e você, menos". "E você vai aprender comigo de uma maneira que você me deve esse aprendizado depois". "Você presta atenção, faz o que eu digo e aqui você vai se dar bem". Isso não é compartilhamento.

Ainda há muitas pessoas que acreditam profundamente que possuem poder na relação de trabalho. Elas pensam: "Eu sentei, eu peguei meu lugar, minha cadeira, e então agora eu digo, mando, avalio, demito. Então, as coisas vão acontecer!". E as coisas não saem. Mas tem bastante gente pensando assim.

Quando um RH escolhe um líder, ele senta na cadeira e muda as relações. Não quer mais proximidade e quer uma dependência de papel. O papel é diferente, mas eu posso ter humanidade, eu posso ter proximidade, eu posso ter compreensão e eu posso me ver também nessa relação, porque o outro é um espelho sempre para mim.

Então, voltando naquele ponto, quando você diz "E os desconfortos?". Eu busco outra coisa por um impulso de não aguentar, claro. Se eu percebi que isso é tóxico e que não tenho força para isso, faço uma escolha. Mas não adianta sair achando que vai encontrar um paraíso no outro tipo de trabalho. Vai se deparar também com pessoas imperfeitas, pessoas egocêntricas e pessoas que querem tirar vantagem em todos os lugares. Há pesquisas mostrando que as pessoas não aceitam mais certas condições e é importante que tenham esse estágio, essa ação de não passividade, mas também precisamos ter cuidado para não largar a toalha de uma maneira impulsiva e inconsciente. E esse processo pode não resultar em um bom caminho.

A medida entre a entender essa lógica de que as dificuldades fazem crescer e a decisão de jogar a toalha. Como aferimos?

Vinicio Chechetto - Eu penso que tudo começa com autoconhecimento, conhecer e entender o nosso potencial. Conhecer nossas fraquezas, gatilhos, padrões repetitivos.

Mas nossa essência, que não é conhecida com palavras, pensamentos, é conhecida com esvaziamento ou silêncio. Com quietude. Como ir além do pensar?

Porque o pensamento também é uma forma e uma palavra. A gente pensa com palavras, formas e imagens. E quando conhecemos nossa essência, conseguimos ir além das palavras. Então, chega o ponto para encontrar a justa medida, o fim de um ciclo. Vou caminhar e caminho bem e fecho bem. Para ter certeza precisamos do autoconhecimento. Então sim, essa vivência de prestar atenção em si vai abrindo caminhos. Normalmente nós ficamos prisioneiros de um olhar superficial, externo, sem aprofundar e ter a percepção da nossa essência.

Uma frase bastante conhecida nos diz que "se você ama o que você faz, você nunca trabalhará um dia em sua vida". Essa frase, em certa medida, te incomoda?

Vinicio Chechetto - Talvez, porque o amor não exclui momentos de dor. Momentos de separação. Nós vivemos a experiência humana também no trabalho. Então, pode ser uma fase adocicada ou enganosa. Tem coisas, situações que devemos repelir mesmo, como a violência e a desqualificação, a discriminação, um viés de desumanidade. Claro que você também chega a um certo momento, mesmo gostando, apreciando o que você faz, ao seu limite físico, um limite de exaustão. Mas é importante viver essa experiência de estar consciente de que não se gosta, acolher mesmo. Esse 'não gostar' também é compreender o que ele traz de energia. Por que ele toca certos dínamos: mentais, emocionais e até físicos.

Talvez essa frase incomode porque ela oferece uma receita pronta. É uma promessa que não se compra e depois não outorga aquilo que promete. Aliás, nem um objeto cumpre plenamente o que promete. Nem uma Ferrari, nem um ambiente de trabalho. Ele, por si, pode contribuir. Mas onde está o diamante? Está no meu bolso, não lá fora.

Como identificar o trabalho que realmente se conecta com o seu propósito?

Vinicio Chechetto - A auto investigação. É o princípio de tudo.

  • O que é que eu sou?
  • Quem eu sou?
  • O que eu tenho feito?
  • Quais são os meus talentos?

E ao realizá-la isso amplia, aumenta meu bem-estar. Mas é preciso conhecer a nossa força e conhecer também o que não queremos, porque isso nos corrói, nos distrai. Eu estou buscando uma posição de diretoria, ok? Quando for diretor, o que isso vai simbolizar? Há muito trabalho, muito dinheiro, muito poder, é certo. E o que mais? Porque se não cuidar, vai ter muita infelicidade também. De onde vêm as perguntas que você escolheu fazer? Vem de uma busca, de uma intuição?

No fundo, todos nós nos encontramos no mesmo desejo, no mesmo sonho. O sonho que você sonha é o meu sonho. Porque eu não sou separado de você. Nascemos da mesma substância.

Crescemos ouvindo que podemos "ser tudo", mas nem sempre sabemos o que esse "tudo" significa. E saímos em busca do trabalho dos sonhos, aquele que nos preenche e nos abastece diariamente de alegria, propósito, amor.

Mas o trabalho dos sonhos realmente existe? Para investigar as inúmeras possibilidades de resposta para esta pergunta, conversamos com o filósofo e psicólogo Vinicio Chechetto, sócio Wisnet, sobre propósito, relações de trabalho e amor. Sim, amor.

Essa ideia de "trabalho dos sonhos", ela ainda existe ou é uma lenda?

Vinicio Chechetto - Existe. Acho que a gente pode caracterizar, como um exemplo, que o trabalho [dos sonhos] contribui para a sua dignidade. É aquele que tem um espaço onde você pode ampliar seu potencial. Até acessar o seu pleno potencial, digamos. Sim, ele existe.

Mas não esperemos muito que ele esteja lá ou cá, nesta ou naquela empresa. Não. Há uma expressão de Santo Agostinho que diz:

"Se você não tem tudo o que ama, ame tudo o que você tem".

Eu posso transformar meu ambiente, meu trabalho, num lugar de expressão do meu ser, de minha qualidade, de minha inteligência, de meu relacionamento e mesmo de amor. O ambiente do sonho é um ambiente desafiador, estimulante e confiável. Neste sentido, como você pode contribuir para ter as condições e o ambiente que precisa para ser feliz?

Na sua opinião, porque as novas gerações estão tão "obcecadas" com essa lógica de que elas precisam ser muito felizes no trabalho, senão o trabalho não vale a pena?

Vinicio Chechetto - Das mais diversas formas, quando nós buscamos algo tem - por detrás, em última análise -, bem mais do que apenas remuneração. Se eu dissesse que você tem R$60 milhões para receber na sua conta, você quer esses R$60 milhões? Provavelmente, sim. Só que tem uma condição: para receber esses R$60 milhões, você vai ficar infeliz, muito infeliz. Você topa? Não, claro que não! Então, o que você busca?

As novas gerações acentuam mais a consciência para a importância da auto realização. É uma forma de impulso para buscar, em última análise, harmonia, tranquilidade. É que muitas vezes não está onde a gente busca, mas ela é um impulso. Ela está indicando, movendo. É algo que todos nós experimentamos e cada vez mais parece que as pessoas acordam para isso. Mesmo aqueles que queriam ficar 40, 50, 60 anos numa empresa, e no fundo tinham uma ilusão ou um desejo de estar no trabalho dos sonhos. Porque, de um jeito ou de outro, ele indica onde nós queremos chegar.

Se fosse para resumir, então, eu diria que as novas gerações estão nessa busca pelo "emprego dos sonhos" de maneira tão empenhada porque é também uma busca pela felicidade duradoura, verdadeira, real.

Estamos sabendo lidar com os incômodos naturais do dia a dia de trabalho? Ou idealizamos tanto uma relação de trabalho que quando ela vem e traz incômodos, desconfortos, jogamos a toalha rápido?

Vinicio Chechetto - É uma ótima questão. Temos uma questão que é a personalidade, o jeito de ser e de agir de Vinicio, João, Mário e o papai e a mamãe, os papéis, gestores etc. A personalidade, por definição, ela sempre manifestará insatisfações. A inquietude, no fundo, é a busca por acessar a nossa natureza mais profunda.

Então, acho que a tua pergunta já contém uma resposta. Muitas vezes o obstáculo é um degrau. E hoje "jogamos a toalha". Acho tão bonita essa expressão!

E é muito fácil jogar a toalha e sair procurando outro emprego, outro trabalho, outro desafio. Porque nós queremos com isso uma paz ativa. Todos nós carregamos um diálogo interno. Eu carrego a contradição em mim mesmo. E muitas vezes, ao jogar a toalha com simplicidade ou com superficialidade, nos lançamos num círculo vicioso, que não nos ajuda a encontrar o que queremos.

É importante a gente ter essa compreensão no mundo do trabalho. Nós não vamos ter sempre o gestor que nós sonhamos, o ambiente que nós sonhamos, os colegas que sonhamos, porque há imperfeições. E nós nos defrontamos com imperfeições, com falhas, com ego, com ambições dentro de nós mesmos, inclusive. Isso incomoda, eu sei. Mas aí eu posso usar isso como energia, como degrau, em vez de um obstáculo, para tomar consciência.

Uma vez, um participante num evento em que eu estava, falou: "Eu sou grato pelo meu câncer". E aí ele contou toda uma história de como ele vivia antes da doença e dos aprendizados que ela trouxe. Não que seja desejável. Não que busquemos histórias assim. Mas ao encontrar esse câncer, ele recuperou seus relacionamentos de uma maneira admirável.

É importante saber que toda a dor é uma informação. Toda dor aponta para algo que pode significar maior consciência. Então, ao fugir ou ao querer apenas um trabalho confortável, sem desafios, posso estar em busca de um bem estar artificialmente, não permanente. Eu posso estar me enganando em vez de evoluir. Então, se eu estou em uma busca desenfreada de algo mais e mais confortável, vai chegar a hora em que vai ficar tóxico.

Por outro lado, você acha que as empresas e as organizações estão preparadas para ser o trabalho dos sonhos de alguém?

Vinicio Chechetto - Grande parte não está. E nós convivemos com muitos RH, muitos clientes, e em especial com lideranças. Então, você encontra hoje ainda liderança na lógica de comando e controle. E essa lógica tem um pressuposto: "eu sou mais e você, menos". "E você vai aprender comigo de uma maneira que você me deve esse aprendizado depois". "Você presta atenção, faz o que eu digo e aqui você vai se dar bem"Isso não é compartilhamento.

Ainda há muitas pessoas que acreditam profundamente que possuem poder na relação de trabalho. Elas pensam: "Eu sentei, eu peguei meu lugar, minha cadeira, e então agora eu digo, mando, avalio, demito. Então, as coisas vão acontecer!". E as coisas não saem. Mas tem bastante gente pensando assim.

Quando um RH escolhe um líder, ele senta na cadeira e muda as relações. Não quer mais proximidade e quer uma dependência de papel. O papel é diferente, mas eu posso ter humanidade, eu posso ter proximidade, eu posso ter compreensão e eu posso me ver também nessa relação, porque o outro é um espelho sempre para mim.

Então, voltando naquele ponto, quando você diz "E os desconfortos?". Eu busco outra coisa por um impulso de não aguentar, claro. Se eu percebi que isso é tóxico e que não tenho força para isso, faço uma escolha. Mas não adianta sair achando que vai encontrar um paraíso no outro tipo de trabalho. Vai se deparar também com pessoas imperfeitas, pessoas egocêntricas e pessoas que querem tirar vantagem em todos os lugares. Há pesquisas mostrando que as pessoas não aceitam mais certas condições e é importante que tenham esse estágio, essa ação de não passividade, mas também precisamos ter cuidado para não largar a toalha de uma maneira impulsiva e inconsciente. E esse processo pode não resultar em um bom caminho.

A medida entre a entender essa lógica de que as dificuldades fazem crescer e a decisão de jogar a toalha. Como aferimos?

Vinicio Chechetto - Eu penso que tudo começa com autoconhecimento, conhecer e entender o nosso potencial. Conhecer nossas fraquezas, gatilhos, padrões repetitivos.

Mas nossa essência, que não é conhecida com palavras, pensamentos, é conhecida com esvaziamento ou silêncio. Com quietude. Como ir além do pensar?

Porque o pensamento também é uma forma e uma palavra. A gente pensa com palavras, formas e imagens. E quando conhecemos nossa essência, conseguimos ir além das palavras. Então, chega o ponto para encontrar a justa medida, o fim de um ciclo. Vou caminhar e caminho bem e fecho bem. Para ter certeza precisamos do autoconhecimento. Então sim, essa vivência de prestar atenção em si vai abrindo caminhos. Normalmente nós ficamos prisioneiros de um olhar superficial, externo, sem aprofundar e ter a percepção da nossa essência.

Uma frase bastante conhecida nos diz que "se você ama o que você faz, você nunca trabalhará um dia em sua vida". Essa frase, em certa medida, te incomoda?

Vinicio Chechetto - Talvez, porque o amor não exclui momentos de dor. Momentos de separação. Nós vivemos a experiência humana também no trabalho. Então, pode ser uma fase adocicada ou enganosa. Tem coisas, situações que devemos repelir mesmo, como a violência e a desqualificação, a discriminação, um viés de desumanidade. Claro que você também chega a um certo momento, mesmo gostando, apreciando o que você faz, ao seu limite físico, um limite de exaustão. Mas é importante viver essa experiência de estar consciente de que não se gosta, acolher mesmo. Esse 'não gostar' também é compreender o que ele traz de energia. Por que ele toca certos dínamos: mentais, emocionais e até físicos.

Talvez essa frase incomode porque ela oferece uma receita pronta. É uma promessa que não se compra e depois não outorga aquilo que promete. Aliás, nem um objeto cumpre plenamente o que promete. Nem uma Ferrari, nem um ambiente de trabalho. Ele, por si, pode contribuir. Mas onde está o diamante? Está no meu bolso, não lá fora.

Como identificar o trabalho que realmente se conecta com o seu propósito?

Vinicio Chechetto - A auto investigação. É o princípio de tudo.

  • O que é que eu sou?
  • Quem eu sou?
  • O que eu tenho feito?
  • Quais são os meus talentos?

E ao realizá-la isso amplia, aumenta meu bem-estar. Mas é preciso conhecer a nossa força e conhecer também o que não queremos, porque isso nos corrói, nos distrai. Eu estou buscando uma posição de diretoria, ok? Quando for diretor, o que isso vai simbolizar? Há muito trabalho, muito dinheiro, muito poder, é certo. E o que mais? Porque se não cuidar, vai ter muita infelicidade também. De onde vêm as perguntas que você escolheu fazer? Vem de uma busca, de uma intuição?

No fundo, todos nós nos encontramos no mesmo desejo, no mesmo sonho. O sonho que você sonha é o meu sonho. Porque eu não sou separado de você. Nascemos da mesma substância.

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