Mais um texto sobre o Dia Internacional da Mulher. Pra quê?

Mais um texto sobre o Dia Internacional da Mulher. Pra quê?

Mais um texto sobre o Dia Internacional da Mulher. Pra quê?

Mais um texto sobre o Dia Internacional da Mulher. Pra quê?

Mais um texto sobre o Dia Internacional da Mulher. Pra quê?

Uma reflexão sobre a importância
desse dia no nosso tempo.

Aprendi com a Cris Lisboa @gowriters — que faz as jornadas de escrita mais profundas e potentes que já experimentei — que antes de começar qualquer texto precisamos nos perguntar: O que quero dizer? O que preciso dizer? Me perguntei e cheguei a uma resposta. Pretensiosa, talvez, mas muito verdadeira. Quero que este seja um texto daqueles que dá vontade de ler em voz alta.

Por mulheres, com mulheres e para mulheres.

Sou mãe de três mulheres. Mas, antes disso, sou neta. De uma avó mineira que não podia comprar e nem escolher as próprias calcinhas. De outra avó carioca que, viúva, costurava roupas de festa para sustentar os quatro filhos. Também sou filha. De uma mãe que leu numa emissora nacional de rádio o seu trabalho de conclusão de escola, sobre a nova economia brasileira, na década de 50. Apesar disso, foi incentivada a não trabalhar para cuidar de seis filhos. Aspas para Hannah Arendt:

“Nascemos em um mundo mais velho do que nós e este mundo sobreviverá a nós. Portanto, nós compartilhamos o mundo não somente com nossos contemporâneos, mas também com nossos predecessores e com nossos sucessores, com aqueles que nasceram antes de nós e com os que ainda estão por nascer”.

Hoje, portanto, é dia de honrar todas as mulheres que vieram antes de nós e também aquelas que formam nossa rede de apoio, dividindo dores e amores. E mais, as que irão nos suceder, com as quais temos o compromisso de ser inspiração.  Vale tirar um tempo para pensar em quem veio antes de nós e agradecer. Vale dar um pulo no futuro e pensar em como gostaríamos de ser lembradas por outras mulheres.

Porque operárias russas reivindicaram melhores condições de vida e de emprego, porque uma jornalista alemã na Conferência Internacional de Mulheres Trabalhadoras, na Dinamarca, convocou mulheres a juntar suas lutas, e porque, por unanimidade, todas toparam, o dia 8 de março é uma data que faz parte do calendário de mais de 100 países. Viva elas! Talvez tivessem pouco tempo para organizar o movimento, talvez tivessem medo, talvez pensassem que não ia dar em nada. Mas aceitaram os desafios. E hoje estamos aqui.

Entendi que este dia tem forte ligação com o trabalho e com aquilo que o ótimo artigo da HBR "What’s Really Holding Women Back?" chamou de narrativa trabalho/família. Os autores desmontam duas crenças: a de que os cargos de alto nível exigem uma dedicação 24/7 e a de que as mulheres, por precisarem se doar à família, não conseguem focar no trabalho e assistem à estagnação de suas carreiras.

A pesquisa mostrou mulheres solteiras com carreiras estagnadas e pessoas sendo prejudicadas - e até mesmo adoecendo - com o excesso de trabalho. O fato é que ainda somos vistas como responsáveis quase que exclusivamente por cuidar das nossas famílias, que o equilíbrio trabalho/família é algo impossível de se alcançar e que o modelo celebrado de dedicação é o de 24/7. Hoje é dia de lembrar como a cultura patriarcal e da sobrecarga profissional ainda é celebrada e praticada em um significativo número organizações. E de refletir sobre os novos modelos de trabalho, novos valores organizacionais e novos jeitos de fazer negócio que já existem e podem ser estimulados. A tal da flexibilidade “conquistada” durante a pandemia tem aparecido como a condição mais desejada por pessoas de todos os gêneros, idades e nacionalidades nas pesquisas de clima e engajamento. Vale desconstruir narrativas e construir novas. Vale promover espaços de diálogo e pensar nas flexibilidades possíveis.

Na minha pesquisa para este artigo encontrei dados que apontam para uma evolução, mas que ainda são frágeis. O número de mulheres em cargos de diretoria aumentou, mas no 'middle management' ainda somos poucas e ganhamos menos do que os homens. Ainda se acredita que não somos tão ambiciosas e não queremos evoluir em nossas carreiras, mas o que se vê é o que a consultoria americana Mckinsey chamou de “degrau quebrado”.

Muitas vezes não conseguimos dar nem o primeiro passo porque não somos vistas como adequadas para ocupar cadeiras maiores e de maior responsabilidade. As promoções para o primeiro cargo de gestão ainda são quase que 100% destinadas aos homens. E se não fizermos esse movimento inicial não conseguiremos correr atrás do atraso. Hoje é dia de observar com mais cuidado e atenção os dados e a experiência diária.  Checar se estamos contribuindo para deixar degraus quebrados pelo caminho de mulheres que fazem parte da nossa equipe, da nossa empresa, da nossa universidade, da nossa família. E de ser ponte, escada, janela para todas nós. A ideia de “uma puxa a outra” é potente e pode ser transformadora. Viva as mentoras, viva as empreendedoras, viva as startapeiras, que nos mostram que é possível e que podemos estar juntas.

Fiquei triste com o que li no relatório da Mckinsey, que é realizado há quase 10 anos, sobre o impacto duradouro das micro agressões diárias que ainda sofremos. Por muito tempo elas não tinham nome e, talvez por isso, eram ainda mais naturalizadas. Quando foram nomeadas passaram a ser mais visíveis, mas ainda assim são enraizadas e nem sempre percebidas. Manterrupting, Mansplaining, Gaslighting dão luz às interrupções, ao desrespeito, à falta de consideração, à desqualificação que deixam marcas profundas, reforçam a chamada “Síndrome de Impostora” e geram tristeza e retrocesso.

Vivi duas situações das quais não me esqueci. Em uma delas, quando eu tinha uns 12 anos, apresentei um texto numa aula de criatividade e o professor me perguntou qual era a fonte. Demorei um tempo para entender a pergunta até me dar conta que ele não achava possível que aquele texto fosse meu. Graças a isso passei muito tempo achando que não era criativa. Para quem sempre sonhou em ser redatora, esse episódio me desestabilizou bastante. O outro, quando era publicitária, vi uma ideia minha sendo roubada por um chefe.

Ele levou os louros, os prêmios e ficou por isso mesmo. Estava grávida e passei um bom tempo chorando. O ambiente era tóxico e os “gênios criativos” se achavam acima do bem e do mal. Então, hoje é dia de lembrar de momentos em que fomos interrompidas, que nos explicaram coisas óbvias, que duvidaram da nossa capacidade e criatividade. Acolher a dor e repetir, como mantra: isso não é normal, isso é estrutural e não vou tolerar atitudes como essas. Um viva! E todo o meu respeito às mulheres que se posicionam diante das agressões, injustiças e preconceitos.

Para terminar, quero trazer aqui um exemplo de uma mulher admirável que conheci através de outra mulher admirável. Minha mestra Lourdes Alves, que iniciou e sustenta um grupo de mulheres para ler e refletir o livro e o movimento de Leymah Gbowee, Guerreiras da Paz. Ela conseguiu juntar cristãs e muçulmanas vestidas de branco, que se reuniam em praças e campos de futebol e toparam fazer greve de sexo para mobilizar os rebeldes e serem incluídas nas negociações de paz para pôr fim à guerra civil na Libéria.

Ganhadora do Nobel em 2011, ela diz: “Sou uma feminista com ponto final, sem reticências. A mulher precisa ganhar mais poder para equilibrar melhor o mundo". Hoje é dia de celebrar as ativistas, as autoras, as poetas, que fazem protestos misturando criatividade com atitude. E não só hoje, mas todo dia, é tempo de, intencionalmente, ler mulheres, comprar marcas criadas por mulheres, trazer mulheres para equipe, incentivar a carreira de mulheres. Cada escolha pode fazer a diferença. Para nós e para aquelas que nos sucederão. Porque como diria a poeta polonesa Wislawa Szymborska: “O que quer que eu faça, vai se transformar para sempre naquilo que fiz”. Esse texto foi escrito em voz alta, e, quem sabe, pode inspirar leituras e movimentos. Sejamos íntegras, indignadas, impacientes, inspiradoras. Que a gente possa fazer desse dia um dia melhor para cada uma e para todas nós.

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